Um belo dia em que amigos de diversas
origens discutiam política no plano do idealismo, notava-se a presença de
pedreiro, operário da indústria, professor universitário (o falecido Hélio
Augusto de Souza) sociólogo respeitado, funcionários do INPE, advogados e
médicos, alguém falou de uma frase que ainda fica na minha memória. Ele
disse: "Quer acabar com a carreira de um comunista, dê a ele um bom
salário". Comunista aqui é só uma expressão que pode significar também idealista.
Isso calou no meu sentimento de idealista,
que como os demais, sonhava em ver um Brasil coletivamente melhor. Um
país onde as pessoas sofressem menos, fossem mais bem educadas, conseguissem
chegar rapidamente a um médico ou hospital, tivessem um transporte coletivo
utilizado por todos, inclusive pelos ricos, e sentissem prazer em viver
coletivamente.
Agora depois de muitos anos, eu pude
entender o que significava aquela frase. Pude ver que as pessoas ainda continuam
com enormes dificuldades de trabalhar em grupo. Cada um quer ser a estrela, cada um deseja
fazer sucesso. Os grupos nem chegam a nascer e já morrem sufocados pelos
próprios membros que, ao invés de juntarem as forças para construir um futuro
melhor, acabam dilacerando a unidade grupal que, enfraquecida, caminha rumo a
decomposição.
Por mais que se tentem formar grupos as
individualidades ou o despreparo acabam por destruir a ideia de conjunto.
As pessoas, de modo geral, frequentam as
organizações quase sempre com a intenção de obter alguma vantagem pessoal, que
pode ser um emprego, um contrato financeiro, um cargo de confiança, ou até
propinas em troca de prejudicar o conjunto de que faz parte. Há os que entram
apenas para conseguir informações e fornecê-las aos adversários.
Do outro lado, as organizações corruptas
são muito mais eficientes e mostram o quanto conseguem desviar dinheiro em
grandes volumes, e com o resultado dos atos nefastos conseguem financiar
futuras eleições e assim fazem da política um meio de vida farto e muito bem
organizado.
As associações com finalidade de combater
a corrupção têm muito mais prerrogativas do que se pode imaginar, podendo,
inclusive, substituir o ministério público nas proposituras de "ação civil
pública" que pode requerer perda de mandato, suspensão de direitos
políticos, perda de cargo público, e ressarcimento dos prejuízos causados ao
erário público.
As pessoas não sabem disso, e acabam
usando a imprensa como órgão fiscalizador, como se isso pudesse dar resultado
na imprensa das cidades do interior em que os órgãos de imprensa vivem das
verbas públicas e de favores dos políticos.
Os grupos que conseguirem se organizar
ainda que em número pouco expressivo, mas com propósito de observar atos
públicos e acionar na justiça os autores de danos ao interesse público, podem
significar muito na marcha contra a corrupção.
O caminho é muito simples, bastando que
seja registrada uma associação cujo custo do registro não chega a duzentos
reais e a partir daí dar início a um trabalho sério que poderá substituir ou
complementar a difícil tarefa dos Promotores Públicos.
Para que isso seja possível, o mais
importante é que cada membro do grupo tenha noção do compromisso de defender a
unidade, respeitar os demais membros e se comportar como instrumento da união
indestrutível do conjunto. O importante, não é o papel que cada um possa
realizar, mas o que o conjunto por inteiro irá conseguir independentemente de
quem seja o herói.
Duro para o idealista é saber que algum
"comunista" poderá estar no grupo com intenções que não sejam em
favor da coletividade, ou à busca de algum "dinheiro".
João
Lúcio Teixeira
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