PESSOAS SIMPLES ....MAS, FELIZES?

Uma amiga da minha mãe, 5 filhas, moravam num cortiço. No canto da cozinha de vermelhão encerado, uma talha sempre com uma canequinha de aluminio reluzente. Quarto e cozinha, um banheiro para diversas casas do cortiço, tudo muito limpo. Lembro-me das crianças brincando no pequeno corredor, idos pelos anos 70. Eu gostava de visitar essa amiga da minha mãe, porque eu não tinha irmã e lá eu podia brincar com as meninas, a maioria com bonecas de pano, nas coisas simples as meninas eram felizes. Por ser filha única eu tinha variedade de bonecas, brinquedos modernos, porém brincar sozinha não tinha graça. Contraste... rsrsrs, eu era mais feliz brincando com as bonecas de pano das minhas amigas.A grande família com inúmeros filhos, de todos os tamanhos. Os mais velhos se incumbiam de tomar conta dos mais novos, foi assim na família do meu pai e da minha mãe. Era lindo ver a mesa cheia de gente, crianças brincando pelos quintais em natais e datas comemorativas, a imagem de quando brincávamos dentro de um galinheiro desativado, ou de um palheiro na cidade de Araçatuba, fazenda Santa Inácia... os quintais grandes foram se resumindo, os jardins deram lugar à garagens, hoje é área de lazer coletiva em enormes prédios. As cadeiras nos portões acabaram-se, somente em alguns lugares vemos isso.Será que já fomos felizes e não soubemos valorizar? A canequinha de aluminio, a talha, os quintais enormes, as bonecas de pano, os carrinhos de rolimãs, carrinhos feito com carretéis de linha 10, capuchetas. Simplicidade tamanha e tanta saudade!Vir morar no interior eu sabia, tinha a certeza de que resgataria um pouco do meu passado, dando a oportunidade a meus filhos para que subissem em árvores, andassem descalços, brincassem em ruas, jogassem bola. Se eu morresse nesta noite, com certeza morreria feliz em ter alcançado meus objetivos parcialmente.Pessoas simples, longe das grandes metrópolis, das novidades, dos softwares e dos hardwares . O sonho de consumo em adquirir a tv de plasma, lcd, enquanto muitos nem tiveram a alegria em acender um bico de luz, beber água gelada. Contrastes, pessoas que sorriem mesmo faltando-lhes dentes na boca e, em contrapartida pessoas lindas, ricas, famosas, que injetam nas veias drogas para sentirem adrenalina.
O mar aqui é só meu...e eu sou dele. Nas pequenas coisas, nos pássaros que fazem revoadas para alegrarem o meu dia, o vai e vem das águas, o bramido, a alegria das pessoas que jamais viram ou banharam-se é indiscritível. A alegria de conhecer novas pessoas a cada dia, e a tristeza em conhecer pessoas e descobrir que elas não eram o que pensávamos.
Amigo! aquela conversa sempre repetitiva sobre questionarmos o que queremos, o que buscamos é até engraçada, lembrei-me da frase "encima da mula e perguntando cadê a mula". Pense, repense a frase e descubra que a resposta que eu e você buscamos é tão simples, nós é quem complicamos a simplicidade.
Ana Maria