O Jornal Imprensa Livre deste sábado (22/01/11) trouxe em manchete “IPT alerta: enxurrada ocorrida em Caraguá há 43 anos pode se repetir”. Usou o termo “enxurrada”, certamente pequeno demais em sentido para identificar uma catástrofe que oficialmente ceifou centenas de vidas e extra-oficialmente mais de mil delas.
O fato é que a geógrafa Kátia Canil, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o IPT, confirmou que o Litoral Norte Paulista apresenta riscos de sofrer um desastre natural semelhante ao ocorrido em 1967 em Caraguatatuba. “Segundo a técnica do IPT, a enxurrada que devastou Caraguá ocorreu há quase 50 anos e as possibilidades do evento de repetir são grandes”, menciona o jornal.
Disse o óbvio. Não é necessário ser nenhum técnico de um órgão qualquer para saber que os eventos naturais se repetem de quando em quando, exatamente por serem “eventos naturais”.
Não se fala aqui em aumento da temperatura global e outros chavões mais costurados por técnicos que querem atribuir tudo é que desgraça ao descontrole da ação humana. Claro que a irresponsabilidade do homem no manejo da natureza piora as coisas, agrava conseqüências, mas não determina a ocorrência de desastres ecológicos aqui ou acolá.
Assim fosse, teríamos acontecimentos desta natureza apenas a partir do momento em que se identificou o “el niño” e a elevação do aquecimento do planeta. Não seria assim? Ou, pelo menos, não seria lógico assim pensar? No entanto, as desgraças naturais, ocorrências que destroem e matam, têm ocorrido ao logo dos séculos e faz parte da própria história humana.
A catástrofe de 1967 é citada porque está viva em nossas memórias. Mas Caraguatatuba já experimentou outras de igual ou talvez maior magnitude. Como na época não havia a presença maciça da mídia para espalhar o pânico e alardear as desgraças pessoais, tudo ficou no esquecimento. Também, naquela época, poucos moradores tinha a cidade e insignificante foi o número dos que perderam suas casas, familiares e a própria vida.
A título de exemplo, lembramos que a história de Caraguatatuba mostra que os fenômenos climáticos costumam se repetir ao longo das décadas, provocando estragos e inundações devastadores, para usar termo bem em voga.Um ofício do presidente da Província, datado de 21 de fevereiro de 1859, por exemplo, registra o desespero de quem tinha o dever de cuidar de Caraguatatuba na época. Veja apenas este trecho e tire suas conclusões: “...devido aos repetidos temporais de pesadas chuvas, que há mais de um mês desaba em todo o município, em especial um que houve no dia 20 de janeiro, que por um pouco não arrasa Caraguatatuba...”
Vale lembrar que fato semelhante se repetiu em 1944 e foi igualmente avassalador. A técnica do IPT falou o óbvio. E, por ser o óbvio, ela tem razão: a catástrofe de 1967 pode se repetir, sim...
Jose Mário Silva