segunda-feira, 26 de setembro de 2011

UMA VISITA INDESEJÁVEL

Eu vim aqui pra te convidar a ser candidato a vereador do nosso lado. O nosso grande chefe me mandou convida-lo para ir palácio e falar com ele. Eu vim  leva-lo até o chefe agora mesmo. Falava como se o seu chefe merecesse a minha ida até lá no palácio onde de onde ele comanda a nossa vida, com imenso cuidado gerando a alegria geral de um povo que tem evoluído muito sob a sua tutela. Falava como se fosse a coisa mais importante do mundo eu conhecer o seu chefe, era pedante, metido, folgado e muito estranho ao meu mundo. Seguiu tentando convencer-me de que estar ao lado deles era tudo de bom, e ficar em qualquer outra posição seria temerário porque tudo o que acontece de bom acontece no mundo deles e o resto não tem sentido. Seguiu falando que eu como candidato ao lado deles seria um vencedor e que em qualquer outra situação eu seria um perdedor. Quanta prepotência, quanta arrogância, e como demoravam a passar os minutos durante aquela visita asquerosa de um homem que só consegue viver do salário público ainda que na vida real seja um derrotado, um quebrado, um falido.  Falava como quem estivesse muito preocupado com a possibilidade do seu grupo perder o controle do poder e ter que viver do próprio trabalho e sem as benesses que famílias inteiras usufruem descaradamente. Enfim eu lhe falei a verdade, eu já estou filiado a um partido e quero continuar nele porque as pessoas que lá estão não vieram aqui somente em épocas de eleição. São pessoas que me visitam em todos os anos, me cumprimentam no meu aniversário, e me tratam como ser humano o tempo todo e é lá que eu vou ficar.
Ao sair ainda ouvi mais um espécie de intimidação. Ele disse ao despedir-se: Amanhã talvez já seja tarde.  Senti uma vontade de falar tudo o que sentia, mas afinal, esses piratas do poder não têm respeito aos outros e o melhor que pude fazer foi olhar a sua saída, com desdém, e logo após benzer-me dos pés à cabeça para limpar os fragmentos da corrupção que respingaram o meu mundo. Foi terrível, mas foi suficiente para eu perceber que o melhor lado, nem sempre é o que vence as eleições, mas o lado da consciência, da moral e da vergonha que minha mãe sempre recomendou aos seus filhos. Estou muito bem, aqui na minha simplicidade. Aqui é o melhor lugar. 

Um comentário:

munícipe preocupado disse...

Parabéns pela sua resistência, o tormento deve ter sido imenso. Ainda bem que seguimos do lado da simplicidade e da decência.