domingo, 4 de dezembro de 2011

UMA OPINIÃO SOBRE HIPERATIVIDADE III


De:
Eloisa Helena Catanio 


munícipe preocupado

Iniciou seu artigo alegando que crianças hiperativas precisam de
medicamentos, acho importante, de plano, esclarecer aos demais leitores
sobre alguns desses medicamentos, mais especificamente sobre o Ritalina que
está sendo em números alarmantes prescrita as crianças com o suposto
transtorno mental/biológico/genético (a verdade é que ninguém sabe ao certo)
também mencionado em seu artigo: o TDAH

Classificada como anfetamina trata-se de droga sintética, fabricada em
laboratório pode ser comercializada sob a forma de remédio, estimulante da
atividade do sistema nervoso central, faz o cérebro trabalhar mais depressa,
deixando as pessoas mais “acesas”, “ligadas” com “menos sono”, “elétricas”,
etc. É chamada de rebite principalmente entre os motoristas. Também é
conhecida como bolinha por estudantes ou por pessoas que costumam fazer
regimes de emagrecimento.

Nos USA, a metanfetamina tem sido muito consumida na forma fumada em
cachimbos, recebendo o nome de “ICE”. Outra anfetamina,
metilenodióximetanfetamina (MDMA), também conhecida pelo nome de “Êxtase”,
tem sido uma das drogas com maior aceitação pela juventude.

O efeito do cloridrato de metilfenidato, nome verdadeiro da Ritalina, dura
em média quatro horas. Assim como outras “inas” – a cocaína, a cafeína e as
anfetaminas –, ela é considerada um psicoestimulante. Seu mecanismo de ação
ainda não foi completamente elucidado. Mas acredita-se que ela aumenta a
produção e o reaproveitamento da dopamina e da noradrenalina,
neurotransmissores associados às sensações de prazer, excitação e ao estado
de alerta do sistema nervoso.

De acordo com pesquisa recente realizada por USP, Unicamp e Albert Einstein
College of Medicine quase 75% dos jovens brasileiros que utilizam Ritalina
ou similares não foram diagnosticados corretamente. Como também não recebem
acompanhamento médico necessário para efeitos colaterais e reações adversas.

Os cientistas: Francois Gonon, Erwan Bezard e Thomas Boraud da Universidade
de Bordeaux, na França, decidiram analisar pesquisas científicas, sobre a
TDAH e constataram que existe distorção freqüente da literatura científica
que pode estar contribuindo para o surgimento de conclusões equivocadas.

Essas distorções estão reforçando a teoria, ou fortalecendo a visão de que a
TDAH é “causada por fatores biológicos” que sugere tratamento medicamentoso.
O que, nessas mesmas pesquisas científicas, nunca foi comprovado. A
professora Maria Aparecida Moysés, do Departamento de Pediatria da
Universidade de Campinas (Unicamp), vê com reservas esse aumento dos
diagnósticos. “Os laboratórios financiam parte das pesquisas e apóiam
entidades que dão aval a tais conclusões”, denuncia a pediatra, uma das
pioneiras na luta contra a medicalização no Brasil. O movimento conta com a
crescente adesão de médicos psicólogos e outros profissionais da saúde,

A médica sanitarista Mariana Arantes Nasser, coordenadora do Programa de
Atenção à Adolescência do Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa,
ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirma
que: “A Ritalina, muito prescrita a crianças pequenas, não foi estudada o
suficiente quanto aos efeitos em longo prazo. Ou seja, nem sabemos se a
doença existe mesmo e usamos um remédio que nem sabemos se é seguro em longo
prazo”. A sanitarista explica que a medicalização é preocupante também
porque estigmatiza. “Não é fácil para uma pessoa que tem um comportamento
considerado diferente ser taxada de doente por um profissional da área,
principalmente um médico.

A venda de Ritalina cresceu 1.615% só na década passada, segundo o Instituto
de Defesa dos Usuários de Medicamentos. O Brasil é o segundo maior
consumidor da droga no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Dados da
Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo apontam a venda de 150 mil
unidades do medicamento na capital paulista apenas nos primeiros cinco meses
deste ano, compondo uma média mensal quase duas vezes maior que a do ano
passado.

“Na medicina, é absurdo pensar em porcentagens tão altas para um problema
genético, quando o normal são taxas como 1 por 10 mil, 1 por 100 mil, 1 por
milhão. Se reais, esses números indicariam que estamos diante de uma
verdadeira epidemia de distúrbios com origem cromossômica”, analisa Maria
Aparecida Moysés, da Unicamp. Lembrando que na própria bula da Ritalina são
listados efeitos colaterais como febre alta, dor no peito, batimento
cardíaco acelerado, garganta inflamada e espasmos musculares. ”No FDA, órgão
governamental dos Estados Unidos responsável por controlar alimentos e
medicamentos, há 186 registros de óbito citando o uso prolongado do
metilfenidato

“Isso já seria o suficiente para ter muito cuidado ao receitar”, afirma.
“Muitas vezes o fato de uma criança medicada estar mais quieta pode ser
considerado pela escola como um sinal de que está reagindo bem, está mais
concentrada. Mas pode estar ocorrendo o que chamamos na farmacologia de
efeito zumbi, ou seja, as crianças ficam paradas, contidas, como se
estivessem quimicamente amordaçadas.

Marilene Proença psicóloga, integrante do Instituto de Psicologia da USP,
alerta: “... as crianças são diferentes, com formas de aprender diferentes.
Algumas são mais focadas, outras mais dispersas. Não existe um padrão de
aprendizado”. A solução não cabe em um comprimido branco de pouco mais de 1
cm de diâmetro: “Nenhum medicamento no mundo daria conta da complexidade que
é o processo de atenção e aprendizado de uma criança. Ele envolve
afetividade, desejo, representações que a criança cria”.

Para os pais aflitos, que não sabem o que fazer com seus filhos travessos,
ela acena um caminho, antes que eles decidam passar a bola para um
psiquiatra: “A primeira coisa é ouvir a sua criança. O que ela tem a dizer
sobre a escola? Os amigos a tratam bem? O professor a escuta? E não tentar
reduzir todos os problemas educacionais a uma suposta patologia;

“Todo período histórico tem um desejo ardente por indivíduos ilustres e
diferentes, pois eles trazem consigo o futuro. Mas, quando se manifesta na
criança, a individualidade é tratada com desprezo ou subestimação ou talvez
– o que é a coisa mais dolorosa para a criança – com sarcasmo. Lida-se com
elas como se não tivessem nada próprio, e as profundas riquezas das quais
elas vivem lhes são desvalorizadas e substituídas por lugares-comuns. Mesmo
quando não se é mais assim em relação aos adultos, em relação às crianças
continua havendo intolerância e impaciência. O direito de ter opinião
própria que naturalmente se concede a todo adulto é negado a elas. Toda a
educação contemporânea consiste numa luta incessante com a criança, em que
por fim ambas as partes acabam recorrendo aos meios mais censuráveis. E as
escolas apenas dão continuidade ao que os pais começaram. Ela é uma luta
sistemática contra a personalidade. Ela despreza o indivíduo, seus desejos e
anseios, e considera tarefa sua empurrar esse indivíduo para baixo, para o
nível das massas. Basta ler as biografias de todas as pessoas grandiosas;
elas se tornaram grandiosas sempre apesar da escola, não por causa dela.”
Rainer Maria Rilke (poeta morto em 1926)

Fontes: Medicalização da Educação e da Sociedade: eu combato!
Millos Kaiser/Revista TRIP
saudecomdilma.com.br
Vi o mundo – Luis Carlos Azenha

Um comentário:

munícipe preocupado disse...

Concordo plenamente que existem "dignósticos" de hiperatividade em excesso. O medicamento (no caso, a Ritalina) deve ser prescrito SOMENTE em caso corretamente diagnosticado, Concordo também que é errado medicalizar a sociedade como um todo, como vem acontecendo.
Apenas não concordo em rotular de hiperativos (ou portadores de TDAH) todos os casos de crianças que são simplesmente "levadas", crianças ansiosas ou outro qualquer problema de ordem comportamental. Em geral, o maior problema das crianças está dentro da própria casa. Os pais não sabem, simplesmente, educar seus filhos ou então eles mesmos são desestruturados.. Realmente a medicação precisa ser muito bem prescrita, apenas depois de todas as outras alternativas terem falhado. TDAH é um transtorno reconhecido pela medicina e apenas 3%, em média, das crianças encaminhadas para profissionais são realmente portadoras da doença e talvez necessitem de medicação. Acima desses índices, é diagnóstico errado.
E para quem realmente possui o transtorno, as causas podem ser aquelas que foram mencionadas. O tema ainda está em estudo e muito ainda se tem a descobrir sobre o cérebro e seu funcionamento.
Talvez algum dia teremos certeza sobre o que causa o problema e a sua cura, mas até lá vai ter muita mãe/pai pedindo remédio para controlar o filho. Infelizmente.
Assim como a medicalização exagerada, a negação dos tratamentos com remédios é nociva. Acredito que a medicina já avançou muito, vide o aumento da expectativa de vida. Mas só remédio não traz saúde e felicidade. Tem que ter bom senso.