sábado, 15 de fevereiro de 2014

BRINCADEIRA TEM HORA

O jogador de futebol Tinga do Cruzeiro de Belo Horizonte, sofreu o que se chama de preconceito racial, ou simplesmente “bullying” quando do jogo entre o Cruzeiro e o Real Garcilaso do Peru, ocasião em que o jogador brasileiro foi equiparado aos macacos, por conta de sua cor negra.
O jogador Roberto Carlos, lateral esquerdo da seleção do Brasil sofreu a mesma forma de preconceito na Rússia, quando torcedores atiraram bananas no gramado em direção ao atleta e hoje, depois de alguns anos, ele é considerado pessoa muito importante por lá.
No Brasil é comum as pessoas brincarem com apelidos de forma jocosa, no intuito de provocar as pessoas com quem se relacionam. Há apelidos como Negão, Preto, Velho, Baixinho, Magrão, Russo, Xuxa, Vanusa, e assim vão sendo nomeados de forma aparentemente graciosa os amigos ou colegas.
Nos últimos tempos, algumas situações passaram a ser consideradas ofensivas pelo fato de chamarem a atenção em demasia na mídia. São os negros e os homossexuais. Os negros gostam da qualificação de afrodescendentes, e nada mais e os homossexuais, nem querem ouvir falar em “bicha”, “veado”, “marica”, “mulherzinha” e outros pejorativos sempre empregados nas brincadeiras de rua ou nas escolas.
Chamar um afrodescendente de “negão”, pode dar problemas e chamar um homossexual de “bicha” pode complicar.
Do outro lado, os negros podem chamar um branco de “Branquelo”, “Ferrugem”, ou um homossexual pode chamar um homem de “bofe” que não são consideradas situações preconceituosas.
Uma questão que não tem resposta, é “o que é preconceito”. Chamar alguém de cor de negrinho, ou de negrão, é ato de preconceito, ou preconceito seria impedir que um negro entrasse em um restaurante, por exemplo? É ofensivo chamar alguém de bicha velha se de fato ela o for, ou seria preconceito impedir que um homossexual idoso frequentasse certo ambiente?
A diferença entre uma coisa e outra está na forma como a sociedade enxerga o fato em si. Os órgãos de imprensa brasileiros estão exagerando na dose quando se referem a essas situações, e acabam gerando uma confusão sem solução.
O que se vê na prática é o risco de alguém ser mal interpretado se não souber o nome de certa pessoa, e tiver que se dirigir a ela, e se ela for de cor e estiver no meio de várias outras pessoas, ele a indicar como “esse negro ou esse negão”. Também estranho é indicar alguém no meio da multidão como sendo essa bicha ai de amarelo, ou esse frescão de cabelos vermelhos. Mas se for um gordo não tem problemas, pode indicar e dizer por exemplo “esse gordo ai de azul”, ou “esse baixinho de marrom”, ou “esse branquelo de boné”. O jogador brasileiro Tinga sentiu-se ofendido por ter sido equiparado ao macaco, mas não dizem que o homem originou-se do macaco, segundo a teoria da evolução desenvolvida pelo cientista inglês, Charles Darwin? Chamar alguém de negro se de fato for negro, ou de bicha se de fato for homossexual, pode não significar racismo ou preconceito social nem racial. O preconceito não pode ser apenas o fato de alguém dizer que não gosta de negros, não gosta de gays ou não gosta de gordo ou coisa assim. Preconceito precisa vir acompanhado de discriminação que impeça a alguém de exercer uma atividade normal por conta de sua crença, cor, opção sexual ou situação social.
A punição deveria ser cabível quando alguém fosse impedido de matricular o filho em alguma escola em razão da cor, ou se alguém fosse impedido de frequentar um templo religioso por ser homossexual, ou de entrar numa boate por ser diferente de algum padrão preestabelecido. Fora isso, fica difícil identificar o que seja preconceito racial se não há sequer definição exata do que seja raça. Raça é a cor, é a região do nascimento, são os cabelos? 
Enquanto não resolverem essas indefinições, fica difícil punir alguém por preconceito.
Enquanto eu escrevia esse artigo, surgiu no portal de notícias da UOL uma matéria com o seguinte título: “Brasil tem uma morte de homossexual a cada 26 horas, diz estudo”. A matéria diz que eles são assassinados, mas o estudo não diz quantos foram assassinados por conta do preconceito. Podem então ter sido mortos por motivos que não estejam vinculados exatamente à sua opção sexual ou à cor da pele. Tudo isso mostra que essa história de preconceito tem muito de um tabu que precisa ser eliminado, antes de tentar incriminar a todas as pessoas que não são negras ou homossexuais e que não simpatizam com eles. A punição tem sido muito pouco aplicada na justiça, justamente porque não há limites bem definidos entre o que é preconceito, ou “bullying” e o que é apenas ato de desprezo.  As pessoas, não podem ser obrigadas a gostar de tudo o que vêem, principalmente quando o que vêem lhe causa indignação, como o caso do beijo público entre duas pessoas do mesmo sexo. Um cidadão brasileiro de hábitos tradicionalistas, não vai conseguir conviver com isso e tem que ser respeitado no seu direito de discordar. Para uma pessoa com essa convicção, o beijo gay pode ser comparado ao atentado ao pudor. Vão prendê-lo por ser antiquado, ou vão exigir que ele mude tudo o que lhe foi mostrado por tanto anos? Não seria mais adequado exigir que o novo se adaptasse aos costumes?

Quanto ao jogador brasileiro, que sofreu ato de preconceito no Peru, ele estará contribuindo com o seu caso, para que as pessoas discutam melhor a matéria e definam limites entre o que possa ser considerado normal e o que possa ser considerado preconceituoso.

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