Ouvi de um assessor do tribunal
de contas paulista uma frase que não encaixou na minha cuca. Ele disse “servidor
público é um cancro que atravanca a administração”. Ouvi e tremi sobre as
minhas pernas porque, essa é a doutrina predominante nas gestões públicas
brasileiras. Querem na realidade terceirizar tudo e deixar o servidor
carimbando e descarimbando papeis sem muito valor. A teoria deles é a de que o
empregado terceirizado produz, se não é demitido, e que o servidor não pode ser
demitido e por isso não produz. Ora, todo mundo sabe que quando os servidores
eram empregados sem estabilidade os políticos dispensavam em bloco para colocar
amigos e parentes no serviço público e por essa razão existe a proteção da
estabilidade contra os desmandos. Com concurso ainda andam empregando os filhos
e parentes nos cargos públicos através de mecanismos desonestos, imaginem sem
concursos e sem estabilidade? Seria o caos o poder nas mãos de alguns desonestos
bons de voto.
A verdade é outra. As empresas
terceirizadas, são geralmente, os financiadores de campanhas e pagadores de
propina, e isso faz bem aos gestores públicos desonestos.
O certo seria o poder público
realizar todas as atividades permanentes de natureza pública através dos seus
servidores. Até bem pouco tempo, valia a limitação constitucional que permite terceirizar
somente serviços e limpeza e segurança. Agora vale tudo, terceirizam, médicos,
enfermeiros, professores, carpidores, motoristas, tudo o que querem,
terceirizam e desmerecem os servidores, que ficam como segunda opção. Se os
servidores soubessem a força que têm, seriam os detentores do leme da máquina e
conseguiriam elevar a sua alto-estima que anda mais baixa a cada dia. Os
gestores vêm de qualquer cidade de fora, cortam horas extras, transferem
servidores pra longe de casa, mudam cargos, deixam de aplicar os reajustes
legais do salários, e os servidores aceitam tudo isso com se fosse normal. Não
conseguem sequer ter um sindicato atuante. Não se houve dizer que houve algum movimento
sindical e olha que os sindicatos recebem uma grana por ano e nem as contas são
controladas pelos servidores. Depois querem ter valor. Não se deve pregar a
baderna, mas não se pode admitir a omissão covarde que deixa nas mãos dos
passageiros do poder o destino de inúmeras famílias de trabalhadores que são
estáveis, concursados mas incapazes de se defenderem dessa desconfortável falta
de respeito coletivo. Noutros setores os sindicatos querem saber de tudo e
defendem seus associados com unhas e dentes. Servidor público ou serviçal
público?
Há de se destacar aqueles que na
pior das decadências ainda se oferecem para ajudar a destruir a própria classe
em troca de algumas moedas das chamadas gratificações. Se ninguém aceitasse as
tais migalhas e exigisse respeito a todos, quem sabe os invasores não conseguissem
dominar setores importantes da administração. Os idiotas ensinam as funções e
fazem com que os invasores se tornem importantes só assinando o que está feito.
Servidor que se submete a essa
espécie de cooptação é fraco de personalidade e desonesto em relação à
categoria de que faz parte.
Correto seria que o governante não
se metesse na organização da categoria, e lidasse com a classe de forma
organizada respeitando os direitos de todos e premiando a eficiência. Servidor
não tem que ganhar mais porque é puxa-saco. Tem que ganhar mais porque produz
mais e é valorizado por isso. Se o
servidor soubesse da sua força e agisse em coletividade, seria muito mais útil ao
povo que paga o seu salário, e seria respeitado por esse bando de forasteiros
que invade a sua praia. Eu gostaria de poder dizer àquele assessor do tribunal
de contas que servidor é útil sim e que as terceirizações são um grande jogo de
interesses.
Os servidores ainda têm que
dormir ouvindo os malandros dizerem que eles são um cancro que atravancam a
máquina pública. Teve um grande filósofo que disse: “juntos seremos mais fortes”.
Estaria ele tirando um sarro da cara dos servidores?
Um comentário:
Boa noite Dr. João Lúcio
Sou funcionário publico e não sou nenhum cancro para os serviços públicos, temos muito funcionários que vestem a camisa e trabalham a finco para cumprir com sua jornada de trabalho, não somos valorizados pelos nossos trabalhos, pois vem pessoas de outras cidades e recebem o dobro do que os funcionários que já estão a mais de 20 anos nos cargos. Temos funcionários que fazem corpo mole, temos sim, mais isso é culpa da própria administração que fazem os mesmos ficarem assim, pois não há nenhum incentivo, mais infelizmente os funcionários que trabalham não tem valor, trabalhamos porque está dentro de nós o trabalho, mais se fosse pelas chefias que temos largaríamos tudo e ficaríamos como os funcionários que fazem corpo mole...fica aqui minha indignação sobre tudo isso...o que poderia ser feito para os funcionários é uma avaliação e aqueles que realmente produz tinha seu premio, mais até para o nosso chefe maior somos tachados de vagabundos...é lamentável ouvir isto...
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