domingo, 8 de junho de 2014

PORQUÊ OS MÉDICOS NÃO QUEREM TRABALHAR EM CARAGUÁ

O jovem passa por uma verdadeira guerra de conhecimentos para ingressar na faculdade de medicina. O vestibular é muito difícil, as vagas são poucas para uma demanda enorme e o stresse é inevitável durante o período de tentativa de ingresso numa escola de medicina. Passada a primeira barreira, o jovem vai a freqüentar as aulas, e durante seis anos, a sua vida será de dedicação intensa porque medicina não é curso fácil. Terminada essa etapa, começa a outra luta ainda mais difícil que é busca por uma vaga nos cursos de residência, que é uma espécie de pós-graduação ou especialização médica. Aquela primeira etapa, forma médicos clínicos gerais, estágio ainda pouco valorizado no meio profissional e que permite participação em plantões e prontos atendimento, o que lhe dá condições de rendimentos apenas razoáveis, e o obriga a enfrentar a parte mais trabalhosa e difícil da medicina. A residência vai resultar na especialização, que dá ao médico o status de profissional especialista o que, de fato, vai abrir-lhe as portas do pleno exercício profissional. Só que a entrada em curso de residência é uma luta ainda pior e mais difícil do que a tentativa de entrada na faculdade. São poucas vagas, muitos candidatos e muita indicação preferencial na ocupação das vagas. Isso pode fazer lembrar a luta do espermatozóide em busca da fertilização. Uma luta quase sempre inglória.
Depois de toda essa guerra para se profissionalizar, os médicos encontram outro obstáculo, que é a chance de trabalhar. Os que optam pelo serviço público, são os que encontram todas as formas de desconforto. São salas de serviço de má qualidade e às vezes sujas, são móveis velhos e mau cuidados, falta de equipamentos adequados aos diagnósticos, demora na realização dos exames, salários vexatórios, filas imensas e tensas, e chefias que nunca passaram pelos cursos de medicina, que não podem avaliar as dificuldades de ser médico, e que tratam o médico como um marginal que não gosta de trabalhar. Qualquer analfabeto bom de voto pode fazer e desfazer o que quiser com os médicos que são jogados de um lado para o outro e ainda assumem a responsabilidade do erro médico ou da falta de atendimento. Qualquer bêbado que consiga ser eleito ou nomeado para cargo público ganha mais do que médico, mesmo que nem consigam sequer ler direito. Agora surge em Caraguatatuba um exemplo típico do tratamento que é dado aos médicos. Não que sejam santos todos os médicos, porque isso não se pode afirmar. A empresa Corpore que administra parte da saúde pública na cidade, está contratando médicos para pronto atendimento, um monte de consultas por dia, e o contrato de trabalho é de três meses que é o período de experiência normal nas relações de trabalho. Acontece que no ultimo dia da experiência, ela dispensa os médicos sem qualquer alegação, só para não deixar que eles adquiram os direitos trabalhistas dos contratos normais. Depois que o profissional passa pelo período de experiência ele terá que ser indenizado com várias verbas trabalhistas se for dispensado. Por isso a dispensa no final dos três meses, mesmo que o médico tenha desempenhado bem o seu trabalho. Essa é uma das razões que os médicos alegam para não trabalhar em Caraguá. Um profissional depois de passar por toda essa dificuldade ainda ter que se submeter às chefias despreparadas, ou mal intencionadas, não é uma relação de respeito. Eis ai, uma das razões da falta de médicos na cidade. Uma prefeitura ao contratar qualquer empresa para realizar atividades públicas deveria exigir qualidade e eficiência nos serviços e seriedade na gestão. Do jeito que está indo a Corpore, a sua permanência na cidade é no mínimo imoral, se não for ilegal, e essa espécie de relação de trabalho pode ser considerada promíscua e vai gerar má vontade e insatisfações, ao profissional que está ali somente com uma espécie de “quebra galho”.  Uma pena que tenha que ser assim. Lá em Sucupira a gente contrata o médico, exige o cumprimento das jornadas, paga salário digno, e se preocupa com a acomodação da família dele na cidade, para que ele nunca pense em ir embora. Em Sucupira nós respeitamos os profissionais e por isso é que foi classificada cidade padrão em matéria de gestão pública, mas a qualificação de cidade padrão não foi atribuída por nenhum radialista chapa branca. É de verdade mesmo, e lá não falta médicos, quer morar lá? O Caetano apelidou a nossa Sucupira de Pasárgada, parafraseando Manuel Bandeira e lá os médicos vivem assim: (trecho do poema “Vou-me embora pra pasárgada” de Manuel Bandeira)


E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Um comentário:

Anônimo disse...

Cesar Jumana
Muito do que você diz é verdade, mas a grande maioria de médicos se julga profissionais especiais e querem regalias absurdas.
Quando assistimos a seriados americanos observamos que lá os médicos são empregados como em qualquer profissão sem regalias especiais e os bons e extremamente capazes trabalham por conta e ai sim se dão a luxos.
Trabalhar em emprego público e ainda exigir regalias não deve ser admitido. Tem que cumprir horário, dar atendimento de qualidade e o mais importante, não deve dormir em serviço!!!!