O jovem passa por uma verdadeira guerra de conhecimentos
para ingressar na faculdade de medicina. O vestibular é muito difícil, as vagas
são poucas para uma demanda enorme e o stresse é inevitável durante o período
de tentativa de ingresso numa escola de medicina. Passada a primeira barreira,
o jovem vai a freqüentar as aulas, e durante seis anos, a sua vida será de
dedicação intensa porque medicina não é curso fácil. Terminada essa etapa,
começa a outra luta ainda mais difícil que é busca por uma vaga nos cursos de
residência, que é uma espécie de pós-graduação ou especialização médica. Aquela
primeira etapa, forma médicos clínicos gerais, estágio ainda pouco valorizado
no meio profissional e que permite participação em plantões e prontos
atendimento, o que lhe dá condições de rendimentos apenas razoáveis, e o obriga
a enfrentar a parte mais trabalhosa e difícil da medicina. A residência vai resultar
na especialização, que dá ao médico o status de profissional especialista o que,
de fato, vai abrir-lhe as portas do pleno exercício profissional. Só que a
entrada em curso de residência é uma luta ainda pior e mais difícil do que a
tentativa de entrada na faculdade. São poucas vagas, muitos candidatos e muita
indicação preferencial na ocupação das vagas. Isso pode fazer lembrar a luta do
espermatozóide em busca da fertilização. Uma luta quase sempre inglória.
Depois de toda essa guerra para se profissionalizar, os médicos
encontram outro obstáculo, que é a chance de trabalhar. Os que optam pelo
serviço público, são os que encontram todas as formas de desconforto. São salas
de serviço de má qualidade e às vezes sujas, são móveis velhos e mau cuidados,
falta de equipamentos adequados aos diagnósticos, demora na realização dos
exames, salários vexatórios, filas imensas e tensas, e chefias que nunca passaram
pelos cursos de medicina, que não podem avaliar as dificuldades de ser médico,
e que tratam o médico como um marginal que não gosta de trabalhar. Qualquer
analfabeto bom de voto pode fazer e desfazer o que quiser com os médicos que são
jogados de um lado para o outro e ainda assumem a responsabilidade do erro médico
ou da falta de atendimento. Qualquer bêbado que consiga ser eleito ou nomeado
para cargo público ganha mais do que médico, mesmo que nem consigam sequer ler
direito. Agora surge em Caraguatatuba um exemplo típico do tratamento que é dado
aos médicos. Não que sejam santos todos os médicos, porque isso não se pode
afirmar. A empresa Corpore que administra parte da saúde pública na cidade, está
contratando médicos para pronto atendimento, um monte de consultas por dia, e o
contrato de trabalho é de três meses que é o período de experiência normal nas
relações de trabalho. Acontece que no ultimo dia da experiência, ela dispensa
os médicos sem qualquer alegação, só para não deixar que eles adquiram os
direitos trabalhistas dos contratos normais. Depois que o profissional passa
pelo período de experiência ele terá que ser indenizado com várias verbas
trabalhistas se for dispensado. Por isso a dispensa no final dos três meses,
mesmo que o médico tenha desempenhado bem o seu trabalho. Essa é uma das razões
que os médicos alegam para não trabalhar em Caraguá. Um
profissional depois de passar por toda essa dificuldade ainda ter que se submeter
às chefias despreparadas, ou mal intencionadas, não é uma relação de respeito. Eis
ai, uma das razões da falta de médicos na cidade. Uma prefeitura ao contratar
qualquer empresa para realizar atividades públicas deveria exigir qualidade e
eficiência nos serviços e seriedade na gestão. Do jeito que está indo a
Corpore, a sua permanência na cidade é no mínimo imoral, se não for ilegal, e
essa espécie de relação de trabalho pode ser considerada promíscua e vai gerar
má vontade e insatisfações, ao profissional que está ali somente com uma espécie
de “quebra galho”. Uma pena que tenha
que ser assim. Lá em Sucupira a gente contrata o médico, exige o cumprimento
das jornadas, paga salário digno, e se preocupa com a acomodação da família
dele na cidade, para que ele nunca pense em ir embora. Em Sucupira nós respeitamos
os profissionais e por isso é que foi classificada cidade padrão em matéria de
gestão pública, mas a qualificação de cidade padrão não foi atribuída por
nenhum radialista chapa branca. É de verdade mesmo, e lá não falta médicos,
quer morar lá? O Caetano apelidou a nossa Sucupira de Pasárgada, parafraseando
Manuel Bandeira e lá os médicos vivem assim: (trecho do poema “Vou-me embora
pra pasárgada” de Manuel Bandeira)
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Um comentário:
Cesar Jumana
Muito do que você diz é verdade, mas a grande maioria de médicos se julga profissionais especiais e querem regalias absurdas.
Quando assistimos a seriados americanos observamos que lá os médicos são empregados como em qualquer profissão sem regalias especiais e os bons e extremamente capazes trabalham por conta e ai sim se dão a luxos.
Trabalhar em emprego público e ainda exigir regalias não deve ser admitido. Tem que cumprir horário, dar atendimento de qualidade e o mais importante, não deve dormir em serviço!!!!
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