A ideia de dividir o Brasil entre nordestinos e sulistas, foi
uma inovação hipo-filosófica surgida depois da eleição de presidente da
república de 2014 em que a Dilma recebeu 52% dos votos válidos e o Aécio pouco
menos de 50%, o que fez da eleição uma disputa equilibrada que valoriza o
modelo de governo adotado pela república brasileira. A regra é a da escolha do governante
pela maioria dos votos válidos depositados na urna eletrônica. Os defensores da
ideia de que a diferença de pouco mais de 3% dos votos de um candidato para o
outro, não legitima o vencedor, é absurda porque a regra diz que vence quem
obtiver 50% mais um dos votos válidos. O sistema permite que um candidato vença
por pequena ou por grande diferença, não sendo considerado importante o tamanho
da diferença. Ouvi um comentarista dizer em uma emissora de rádio que o Brasil
estava dividido ao meio e que não era correto obrigar os eleitores mais
esclarecidos, dizia ele, do centro-oeste e do sudeste a se submeterem a um
governo eleito pela “ignorância” dos outros brasileiros que podem ter sido
movidos pela “esmola” da cesta básica. Essa é uma maneira perigosa de se
entender os fundamentos do regime democrático que prega a escolha pelo voto
direto, livre e secreto, sem, contudo prever o tamanho da diferença de votos
obtidos por um ou por outro candidato. O Brasil tem um sistema eleitoral que
pode ser considerado o mais perfeito do mundo civilizado e os resultados das
eleições surgem rapidamente dos processos tecnológicos que independem da mão
humana, e ainda assim há quem entenda que se trata de um paisinho de quinta ou
uma república das bananas. O Brasil tem um sistema bancário que pode ser
criticado pelos lucros excessivos das entidades bancárias, mas é firme e
seguro, tem um sistema de saúde, o SUS que nenhum país com mais de cem milhões
de habitantes tem, tem sido considerado o país que mais combate à miséria e a
pobreza, e ainda assim existem os papagaios de pirata que comentam sobre o
Brasil, não como brasileiros mas como estrangeiros que gostariam de ser e não
conseguem. Alguns brasileiros “de quinta” defendem a volta da ditadura militar,
que tanto mal causou ao povo brasileiro, procuram defeitos na nossa organização
sócio-política e botam defeito em tudo, inclusive na eleição livre e
democrática que elegeu Dilma para governar o país por mais quatro anos. Não
gostar do PT ou da Dilma, ou do Lula, é um direito de qualquer brasileiro, mas
isso não autoriza a nenhum cidadão, principalmente se for um falso entendido
das coisas do povo, a desqualificar os resultados do pleito. Há quem fale em
controle da imprensa o que não é um bom assunto, mas há necessidade de que a
opinião publicada por um órgão de imprensa tenha que ser balizada por
conhecimentos e responsabilidades. Não é correto ver-se alguém que não estudou
além do curso fundamental dar palpites sobre a constituição do estado
brasileiro com ares de professor universitário num discurso sem nexo e sem responsabilidade,
fazendo uso de microfones importantes para desqualificar a toda uma estrutura
de organização do estado brasileiro, em troca de “favores” ou por conveniências
de empregos e negócios que favoreçam aos seus parentes e amigos. As emissoras de
rádio ou de televisão, são serviços públicos do Estado, que não podem ser
objeto de uso infiel contra os interesses do estado que autoriza a operação do
serviço e espera o mínimo de responsabilidade nas transmissões. As eleições
foram realizadas, venceu a maioria e a minoria tem que se submeter aos
resultados independentemente de serem os eleitores que elegeram o governante,
do sul, do norte ou do nordeste. Afinal, somos todos brasileiros e não podemos
distinguir o valor do voto pela região geográfica do eleitor. Reconhecer a
legitimidade do vencedor é fundamental para a garantia das instituições democráticas.
Fora disso, seria uma espécie de ditadura da minoria que se acha mais sábia e
competente do que a maioria, e a realidade democrática reside na média da
inteligência coletiva da maioria dos eleitores. Na democracia, o povo é a
razão.
João Lúcio Teixeira
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