quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A SAÍDA PODE SER OUTRO PARTIDO MAIS À ESQUERDA

Converso com pessoas nas ruas e aprendo sempre coisas novas porque gosto de falar, mas de ouvir também. Há uma insatisfação acentuada da parte dos meus amigos petistas de carteirinha, que andam insatisfeitos com o desempenho do partido diante das acusações que vêm sendo direcionadas ao governo federal, Petrobrás, e outras situações desconfortáveis. Os mais fanáticos acham que a imprensa é culpada porque persegue o petismo, e até falam em calar a imprensa, coisa de direita radical. A minha leitura sobre tudo isso, é bem simples e objetiva. O PT, assim que o Lula chegou à presidência da república, descobriu que tinha que negociar com a bandidagem política para conseguir governar. Quem foi encarregado das negociações foi o Zé Dirceu que gozava do status de homem de confiança do Lula e do partido. Ele foi negociar sabendo que estava cumprindo uma missão delicada que poderia render desgastes, mas foi, e cumpriu o seu papel para permitir que o Lula governasse com apoio da maioria dos congressistas. Foi vilão ou foi herói? A resposta depende de quem olha e analisa, podendo concluir-se que qualquer das duas respostas são possíveis. Agora preso, depois da condenação judicial, paga o preço da sua coragem, e paga com a privação da sua liberdade que já foi privada pelas perseguições militares nas épocas de ditadura.
Agora, com esse monte de complicações novas, ficou claro, por exemplo, que o governo segurou alguns preços públicos, como o da gasolina e da energia elétrica, para que a inflação não prejudicasse o desempenho da Dilma nas eleições presidenciais de 2014. Assim que passaram as eleições o problema veio à tona para mostrar que o Brasil foi prejudicado na sua imagem internacional e caiu na cotação que mede a sua capacidade de resposta aos investimentos estrangeiros.
O governo municipal é considerado bom quando a cidade está limpa, mas o governo federal só é considerado bom quando a economia vai bem e, a nossa economia tem mostrado sinais de debilidade. A troca da equipe econômica do governo Dilma, tem que render dividendos rapidamente e o maior desafio é recuperar o nível de produção industrial o que não é nada fácil diante da concorrência internacional. É uma encruzilhada de difícil transposição, porque o mesmo PT que segurou a economia para vencer as eleições, agora sente na pele o corte que ele mesmo fez, e o povo quer respostas.
De tudo o que se avista, não é impossível avaliar se o PT foi um bem para o Brasil ou se foi um mal, porque não dá pra esquecer o Brasil e olhar para o PT e nem esquecer que para ganhar eleições o jogo é o do poder, simplesmente o poder. O PT fez o jogo para ganhar e agora terá que se virar com a crise que ele mesmo criou.
Para nós brasileiros o que fica de bom de tudo isso, é o fato de que a corrupção, doença grave da democracia brasileira, está sofrendo golpes terríveis em suas bases, e a sua derrubada mostra-se possível assim como o fim da impunidade.
O que sente, neste momento, o petista mais ortodoxo?
Ele acha que o partido aproximou-se demais da direita e já está parecendo com o PSDB em alguns pontos, se em outros não estiver em situação pior, e por isso há petistas tradicionais desejando outras oportunidades de se filiarem a alguma legenda mais “pura”.
Se o PT não estivesse no poder, será que a polícia federal faria o que está fazendo ao prender os grandalhões? Será que se o PSDB vencesse as eleições, a polícia federal continuaria atuando com essa voracidade? Será que se o Lula não negociasse através do Zé Dirceu, ele teria permanecido no poder e elegeria a Dilma? Enfim, o Lula e a Dilma fizeram um bem ou um mal ao Brasil?
Tudo isso quem vai contar é a história, que daqui a algumas décadas quando avaliarem os resultados de tudo o que hoje ocorre, do mesmo jeito que hoje se torna possível perguntar se haveria comunismo no Brasil caso os militares não tivessem ocupado o poder em 1964. São 50 anos e ainda não é tão fácil essa resposta. Em 2074 os brasileiros estarão perguntando se valeu a pena o governo “Lula-Dilma-PT”.
Fica por ora, a certeza de que a outra força que irá governar o Brasil virá de alguma vertente mais à esquerda como o PSOL, por exemplo, até que chegue ao poder e tenha que negociar com a bandidagem institucional para poder governar. O que se deseja é que a bandidagem vá perdendo força daqui até a próxima eleição, se não nunca haverá mudança nessa bandalheira nacional do “toma-lá-dê-cá”, como ocorre hoje com a proposta da Dilma de mudança da regra orçamentária para que suas contas sejam fechadas. Ela precisa mudar a regra para não ser enquadrada na lei de responsabilidade fiscal, por conta do excesso de gastos com as obras do PAC e da maldita copa do mundo que nem deveria ter sido feita no Brasil. A Dilma condicionou a liberação de verbas para obras solicitadas por deputados, à aprovação da mudança da regra orçamentária. É isso que está levando o PT a se parecer em alguns momentos com o PSDB e outras agremiações políticas, nesse tal de “toma-lá-dê-cá”. O fato é que a Dilma tem quatro anos para combater essa bandalheira promíscua e tomara que consiga. Se é possível ou não eu não sei, mas espero ver o Brasil livre dessa canalhada institucional.
João Lúcio Teixeira – 2-12-2014


Um comentário:

Anônimo disse...

Usar a tal "governabilidade" para justificar as ações dos mensaleiros vai contra tudo o que o partido defendia quando era oposição. Deveriam ter vindo a público e denunciar o esquema que dominava a câmara e o senado. não deveriam, jamais, compactuar com ele.