A vida urbana tem enormes
conveniências, mas traz no seu ritmo às vezes alucinante, alguns ingredientes
que merecem atenção especial. O estresse resultante da velocidade com que
a vida passa é inevitável, porque nem sempre o corpo e a alma conseguem
acompanhar o ritmo das sucessões dos fatos. Ao levantar da cama, logo cedo, a
cabeça começa a operar a agenda que, se não for administrada com eficiência, não
caberá no dia. Acordar a filha, preguiçosa que gostaria de permanecer na cama
até mais tarde, colocá-la no chuveiro, e ali mesmo dar o suco que já estava na
caixinha porque não daria tempo de espremer a fruta, oferecer o lanchinho
também elaborado por alguma empresa esperta que já sabia que eu não teria tempo
para prepará-lo, enxugar a menina para que não fique resfriada, como recomendou
a pediatra, vesti-la rapidamente por que o Cazuza já falava, há décadas, que o tempo não para. A mochila, o tênis, ih..... esqueci de amarrar o cadarço,
que merda de pressa!... Ih!.... não
penteei o meu cabelo, nem o dela, agora sim, vamos nós. Já no carro... será que
apaguei o fogo do fogão? Será que o ascendi? Desliguei o chuveiro? Melhor ir
ver, mas e o Cazuza!... O tempo, meu Deus, acho que eu vou enlouquecer. A Menina
reclama que está sentada sobre o cinto da sua cadeirinha no banco de trás, eu
no da frente, virar pra trás... não consigo. Desço, dou a volta, abro a porta
de trás, mas não fechei a da frente e o vizinho que foi mais rápido do que e
u,
reclama que a minha porta aberta está impedindo a sua passagem na garagem do meu
prédio, essa droga de prédio que bem poderia ter mais espaço de passagem dos
carros, ele aciona a buzina, eu grito vai tomar ........ hei, parei, pensei e
lembrei do analista e, calma, Celeste, muita calma nessa hora! Fui parando
e pensando, o vizinho buzinando, me apercebi-me sentada no chão da garagem na posição loto do Yoga, com os dois dedos das mãos formando talvez um ó ou quem sabe
mandando tudo pro inferno.
Minha filha desce do carro, agora são três outros carros a buzinarem ávidos pela passagem, ela
me olha de frente, com seu jeitinho infantil e diz: Vamos todos pro inferno mãe?
Já estamos lá, respondi extenuada.
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Há sempre uma saída. Feliz Natal! |
Aí, eu acordei!.. Que alívio, nesta manhã de domingo, único dia
feliz se não fosse o temor de lembrar que amanhã será segunda. Ah! Pera aê,
é véspera de Natal, férias, viiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiva! Viva, viva, viva!... nós duas de mãos dadas, cantando e
brincando de roda como antigamente. Viva. É Natal, estamos em férias, vamos
visitar o papai, a vovó, vamos?
Lembrei que tenho que comprar presentes. Onde? No shopping, com filas, cartão de estacionamento, hum! mas é natal.
Falei sobre o meu sonho, por
telefone, com o analista, logo às oito da manhã e ele, ainda bocejante,
recomendou: Dirija devagar, verifique o óleo do carro, calibre os pneus, abasteça,
veja se não esqueceu nada, para não se lembrar tarde demais, e o mais importante é desarmar a sua própria alma, e ir sabendo que vai encontrar motorista barbeiro na
estrada, vai ter fila no pedágio, o pai da sua filha vai criticar a educação
que você está dando à ela, vai falar que ela está magrinha, vai ter uma irmã ou
tia reclamando da vida, do filho ou da filha, e você precisa se preparar para não se estressar com os problemas dos outros. Desarme a sua própria
alma.
Desarmar a minha alma? O que quis
dizer o analista? Hummm! Desarmar a minha alma quer dizer, dispa-se dos
pensamentos negativos e saiba que em todos os momentos e locais há alguma felicidade
pronta pra ser vivida. Esqueça a Dilma, a Petrobrás, o escândalo do metrô
paulistano, o preço da gasolina, o vereador safado, o prefeito ladrão, o
vizinho que gosta da buzina, a criança que morreu esquecida no banco do carro
no calor de dezembro, e pense que a sua piscina não está cheia de ratos como
dizia o Cazuza noutro poema, mas cheia de pétalas de rosas e um banho de “ofurô”
vai fazer de você a pessoa mais tranquila do mundo. Pense que tudo tem um lado
bom e outro ruim, e você escolhe para qual dos dois vai olhar.
Vá com Deus, e volte com a alma
lavada, a mente ereta e o coração tranquilo, porque haverá mais um ano a ser
vencido e o tempo não para. Com a cabeça tranquila, organize a sua própria paz,
porque Deus tem muito a fazer e talvez tenha que acudir outras pessoas que precisam
mais do que você. Cuide-se. Mande um beijo, de
você para você mesma, como prova de amor próprio. Ame-se antes de tudo e de todos.
Ah! Pra finalizar, esqueça dos
problemas que te fazem sofrer, passe uma borracha sobre eles e seja feliz.
Feliz Natal, feliz Ano Novo! Feliz tudo!
Feliz Natal, feliz Ano Novo! Feliz tudo!
Boa viagem!...
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