quarta-feira, 6 de maio de 2015

REPÚBLICA DE PONTA CABEÇA II

É das coisas e situações mais simples que se consegue extrair as melhores interpretações sobre temas cotidianos. Nem sempre os debates mais sofisticados são a melhor fonte de informações que possam clarear a visibilidade sobre situações contraditórias ou duvidosas.
A Dilma e seu governo são o foco dos debates nacionais, com uma parcela importante da sociedade civil entendendo que já é momento de substituição do governo desgastado pelos últimos acontecimentos massificados na grande imprensa nacional e internacional, cujo foco é direcionado para a Petrobrás e para o escândalo do mensalão que rendeu cadeia a vários figurões importantes da cúpula petista e de outros partidos.
Há uma outra parcela importante da sociedade que não acha que seja oportuna a derrubada do governo que, eleito democraticamente deve ser respeitado por ter sido escolhido pela maioria do povo, nas urnas.
Hoje cedo, ouvindo um programa de rádio AM, desses bem simples apresentado por sindicalistas, mais precisamente na Rádio Estadão de São José dos Campos, ouvi um senhor aparentemente idoso, dirigente de alguma associação de idosos, participando do programa e afirmando ser contra algumas medidas do governo federal que são, segundo ele, destinadas à redução de direitos já conquistados pelos trabalhadores, como o seguro desemprego, pensão por morte e outros. Ele criticava o governo Dilma, e dava como mostra da insatisfação popular, o panelaço de ontem à noite durante o programa político do PT na TV, mas assim que abriram o telefone da rádio para a participação popular, uma mulher interveio para dizer que o panelaço que tem acontecido no Brasil não é coisa de pobre e não acontece nas periferias. Segundo ela o panelaço é coisa da burguesia que foi impedida de continuar se beneficiando da corrupção, e agora insurge contra o governo popular que melhorou a vida dos pobres. Afirmava ela que o panelaço é coisa de burguês porque a panela do pobre não dá pra bater porque ela não está mais vazia como antes. Daí a pouco outro sindicalista tentou argumentar, sem grandes facilidades, até que entrou no ar pelo telefone outra senhora idosa que ratificou os argumentos da primeira senhora e adicionou um novo ingrediente, a possibilidade de os pobres adquirirem novos bens de conforto, e alimentos em maiores quantidades do que antigamente.
Ficou evidente que a derrubada da Dilma não é um assunto assim tão simples porque há uma parte da população que está silente que prefere o sistema de governo atualmente visto no Brasil. Os insatisfeitos, parece mesmo ser o pessoal das classes média e alta, cujas vantagens podem estar sendo reduzidas, com a popularização dos governos dos estados e municípios. Nas grandes cidades, as prioridades dos governos populares são a melhoria do sistema viário de transporte coletivo em detrimento do particular, a redução das dificuldades com o acesso à saúde e a educação, o que de certo modo vai retirar dos mais aquinhoados as facilidades de uso desses fatores por conta do tal “quem indica”. Os menos pobres tinham sempre e têm a possibilidade de furar filas, ingressar em universidades públicas, usar carros nas grandes cidades mesmo que as ruas não mais suportam o volume de tráfego, conseguir licenças e alvarás públicos, tudo a favorecer as classes dominantes. A perda de prerrogativas causa insatisfação. A pergunta é simples: Será que se tentarem derrubar a Dilma, no tapetão, as classes menos favorecidas não irão às ruas defender o atual sistema de governo, que teoricamente lhes favorece?
Os deputados federais, liderados pelo seu presidente Eduardo Cunha, está prometendo ingressar com pedido de “impeachment” da Dilma, numa espécie de vingança porque ele, o Eduardo Cunha está sendo investigado por participação no esquema “Petrolão” e o Supremo Tribunal Federal acaba de autorizar a investigação contra o presidente da câmara de deputados, fato nunca “visto na história desse país”. Ele está muito bravo por isso.
Do outro lado, o Renan Calheiros presidente do Senado, também do PMDB está sendo investigado pelo mesmo motivo, e ambos podem se complicar.
O que se tira de tudo isso, é a certeza de que aquele antigo conluio dos três poderes todos juntos para roubarem o Brasil, está em crise porque o poder executivo da presidência da república não está impedindo, por omissão ou deliberadamente, pouco importa, que o procurador geral da república, a justiça federal e a polícia federal investiguem os atos dos políticos que sempre se beneficiaram das safadezas do poder, que pagava suas campanhas volumosas e ainda mantinha seus parentes e amigos enfiados nos meandros do poder usurpando o erário. Nunca foram antes incomodados. 
A crise não é do PT, mas dos outros partidos contra o PT que não está sabendo, ou não está querendo jogar o jogo tradicional e bem arranjado, das “propinações” coletivas.
Membros do PT erraram, mas não há quem possa jogar a primeira pedra sem o risco de ser considerado farinha do mesmo saco, ou de outro saco de prior qualidade.

O que está pegando é que os do PT tentaram fazer independente o que sempre se fez conjuntamente. A crise é institucional e pode ser extremamente benéfica aos interesses do povo brasileiro que não está preocupado com a cor da bandeira e nem com a sigla que vai ser prejudicada, mas deseja ardentemente se ver livre da corrupção, seja ela vermelha ou azul e amarela.

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