Os trabalhadores levaram séculos
para chegarem ao poder central da república brasileira, ainda que a história
conte que o Getúlio Vargas poderia ter sido considerado um governo com vocação
popular, mas na verdade, ele era um burguês fazendeiro gaúcho que explorava bem
a ideia de governante popular. Popular àquela época não significava se tratasse
ele de representante da classe pobre. Protegia os pobres para obter votos e
isso ele fez muito bem. Tinha algumas crises de brasileirismo e não dá pra
dizer que tivesse sido um governante burguês na essência e nem socialista na
prática. Era um populista travestido de pai dos pobres. O Lula subiu ao pódio com
o estigma de governante oriundo das classes operárias e governou com explicita
atitude de quem se preocupava com a redução da miséria e da pobreza, o que de
fato acabou constatado ao final de seus oito anos de presidência da república,
e que lhe permitiu eleger a sucessora Dilma Rousseff, que ainda se reelegeu ao
final do primeiro mandato de quatro anos. O cenário político mostrava que havia
possibilidade de o Lula voltar a ser eleito ao final do governo Dilma e assim,
poderia o PT seguir na presidência. Isso não agradava à tradicional ideia
burguesa de governança voltada para os interesses dos investimentos de capital,
dos lucros dos negócios, credibilidade no sistema econômico e outras vocações
que têm por finalidade proteger o capital que sempre serviu aos financiamentos
empresariais muito mais do que aos interesses dos trabalhadores diretamente.
Assim, é o BNDES que sendo um banco nacional do desenvolvimento econômico e
social, só financia a economia e nunca o social. A alegação é de que assim
estaria proporcionando geração e empregos depois que as empresas financiadas
pelo dinheiro público estejam funcionando. Ora, financiar os investidores
sempre não é exatamente finalidade social porque nem sempre os empreendimentos
resultam em sucesso e nem sempre o sucesso vira empregos justos com salários
justos e responsabilidade social. Muitos investimentos não sobrevivem e dão prejuízo
ao fundo público que compõe os recursos do BNDES, e outros empreendimentos não
resultam empregos e salários socialmente justos. Mas a burguesia “econômica”
acostumada a se beneficiar dos recursos públicos advindos das benesses
permitidas pelos políticos eleitos com ajuda dos próprios empresários, viraram obsessão
e quando o governo deixa de atender os interesses do capital e passa a
financiar o combate à fome, a permitir vagas aos pobres em universidades antes
ocupadas somente por ricos, o governo é combatido e se possível derrubado em
nome da salvação da burguesia em grande parte mal resolvida que só sobrevive se
com o auxílio direto do dinheiro público. Estão querendo reduzir as dívidas dos
estados, querem renegociar as dívidas da agricultura, querem perdão em dívidas
não pagas ao governo federal ou a bancos oficiais, e querem até perdoar clubes
de futebol que não recolheram INSS de seus funcionários e jogadores.
Se não conseguem, derrubam o
governo e colocam no lugar um outro que fale a linguagem do capitalista que
nunca sai do buraco e precisa sempre de mais investimentos públicos em seus
negócios. A Dilma não fez o jogo, e está sendo derrubada por um conjunto de forças
que não tem origem nas classes trabalhadoras. Dizem
que derrubar a Dilma não é golpe, mas falar em eleições diretas imediatamente é
golpe. Vai entender esses ricos mal resolvidos que não conseguem viver sem
dinheiro público nos seus negócios.
João Lúcio Teixeira - Jornalista
MTB- 83.284
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