Tenho permanecido a maior parte dos meus dias em São José dos
Campos, por conta de alguns compromissos, mas sempre que possível volto à
Caraguá, onde mantenho o meu principal domicílio, e revejo os amigos, além de deliciar-me com o clima mais quente neste
período de temperaturas baixas. As cidades de praia sempre são menos frias e
isso provoca a sensação de bem estar.
Como a minha vivência no litoral esteve sempre ligada a
atividades políticas, tenho que dar atenção às abordagens de sempre, quando nas
ruas, as pessoas me perguntam sobre temas de natureza política. Ás vezes a
abordagem é inteligente, em outras não, mas faz parte da vida de quem gosta de
política dar atenção a todos, mesmo que não seja candidato e nem esteja em
campanha. As pessoas precisam dessa atenção e das informações que lhes possam
ajudar a entender melhor o mecanismo do poder.
Um dia desses fui abordado por um cidadão que conseguiu abalar as minhas
convicções com uma conversa sem pé nem cabeça, ainda mais vinda de alguém com
formação superior, que teve acesso ao conhecimento acadêmico.
Ouvi o seguinte: “Você está com negócios em São José dos
Campos, vai ganhar dinheiro por lá?”
Respondi que não era esse o motivo, mas alguns negócios meus
que precisavam de mais atenção por ora e por isso eu permanecia mais tempo no
Vale, e também porque voltei a estudar.
Insistiu ele na ideia de que eu estaria buscando ganhar
dinheiro, e eu lhe respondi que Caraguá também é um bom lugar para se investir,
até porque os imóveis que tenho na cidade valorizaram bastante.
Ouvi de volta a frase mais infeliz: “ Então você tem que
agradecer o prefeito atual porque o seu patrimônio valorizou em razão da gestão valorizadora do prefeito”.
E prosseguiu: “Eu não gosto do prefeito, mas tenho que tirar
o chapéu para a sua capacidade de administrar”.
Olhei aquilo tudo, somei, subtrai, multipliquei e depois
dividi, engoli seco e me despedi. Ficou sem resposta e não sei se notou o meu
desconforto.
Esta é a tônica do capitalista puro, movido a patrimônio e
dinheiro, sem outras preocupações. Esse tipo só entende a linguagem do lucro, não
se importando se o lucro é justo, é legal, é social, coletivo ou individual.
Só se interessa em fazer crescer o seu patrimônio particular,
e isso, pra eles, é sinônimo de sucesso perante os demais cidadãos, numa
apologia perene ao “ter mais”, “poder mais”,
e sentir-se importante por isso.
Dostoiévski
“As coisas mais insignificantes têm, às vezes,
maior importância e é geralmente por elas que a gente se perde.”
Eu que sempre busquei estudar a ciência política, me ocupei de
tentar entender, Maquiavel, Freud, Dostoiévski, Rousseau com a sua obra mais
importante, “O contrato social”, tive que ouvir alguém dizer que o bom gestor
público é quem faz valorizar o patrimônio particular das pessoas.
O mundo evoluído se orienta politicamente através de
indicadores como o IDH- Índice de Desenvolvimento Humano, que mede o quanto
cada pessoa evoluiu como pessoa, o quanto teve acesso ao conhecimento, à
ciência, à tecnologia, para se ilustrar enquanto gente e aprender a dirigir a
sua vida dentro dos fundamentos da consciência coletiva. O quanto cada
indivíduo evoluiu no seu conteúdo social, tem que ser mais importante do que o
quanto valorizou o patrimônio da cada um. Isso eles não aceitam e chamam a
preocupação com o coletivo de idiotice.
Se o coletivo fosse mais importante, a escola pública seria
melhor do que a escola particular, a segurança pública seria suficiente, a
saúde pública não exigiria que os cidadãos comprassem convênios particulares, e
os ricos não teriam o que fazer com as suas riquezas a não ser esnobar os pobres.
De que valeria o dinheiro se o poder público fizesse o que prometem, as leis,
as regras de convivência social e as promessas políticas de épocas de eleição?
Como se aproxima o tempo de elegermos prefeitos e vereadores,
resolvi escrever esta matéria para deixar evidente que se o voto for
direcionado a candidato que possa realizar melhor a satisfação das necessidades
coletivas e não o desejo particular dos capitalistas ortodoxos, o homem vai se
libertar dessa promiscuidade intelectualizada que se caracteriza na fome de ter
patrimônio para resolver os problemas que deveriam ser resolvidos pelo poder
público. Pra que dinheiro se a escola pública fosse boa? Pra que dinheiro se se
a saúde pública fosse suficiente? Pra
que dinheiro se não fosse necessário contratar seguros caros para proteger o
que o poder público protegeria se fosse eficiente?
Não se pode afirmar que a riqueza seja ruim, mas há de se
ponderar que ela deva ser considerada importante somente depois que os outros
valores forem colocados à sua frente, e o coletivo se tornarletivo foa ser considerada depois que se os
outros valores forem colocado na frente e o coletivo for mais importante do q
mais importante do que o privado.
Alguns velhos casais que formaram grandes patrimônios não
conseguem conviver com a ideia de morrer e deixar tudo por ai, e por isso
sofrem com o medo da morte. No caixão só cabe o corpo.
João Lúcio Teixeira
Jornalista- MTB- 83.284
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