Chatice tem época certa de ocorrer. Houve um tempo em que
havia o chato da loteria esportiva, aquele cara que encostava na gente e
explicava jogo a jogo os seus palpites. Nunca acertava muita coisa, mais se
julgava um perfeito analista de loteria, e conhecedor da história dos times, a
vida de cada jogador, e assim ia fundamentando cada palpite. Com treze jogos, o
chato alugava uma hora do tempo dos outros, com uma falação chatíssima, para na
segunda feira voltar para justificar os seus erros. Era uma expulsão
inesperada, era uma contusão, ou quem sabe um erro do juiz e ia de novo um
monte de tempo a ouvir o chato justificar porque não acertou os resultados.
Tem o chato do remédio caseiro que sabe tudo de cada erva ou
folhagem, flor, fruto, casca, raiz e o jeito de fazer os chás, pomadas, modo de
aplicação, só não tem o diploma de médico, mas diz que sabe mais do que os
médicos.
Tem os chatíssimos religiosos que enchem o saco dos outros
tentando levar mais gente pra sua igreja, como se fossem donos da verdade e únicos
salvadores das nossas almas. Jesus já anda de saco cheio de tanta badalação.
Agora, chegou a época dos chatos de eleição, aqueles que
encostam e querem de todas as formas modificar o nosso conceito de política.
Usam argumentos sem pé nem cabeça para dizerem porque o seu candidato é mais
conveniente, mas não dão nenhuma razão plausível pra que você aceite o seu
candidato. Quer falar mal dos demais candidatos, mesmo que nenhum elogio faça
em favor do nome que diz apoiar. Diz que um é ladrão, o outro é alcoólatra, o
terceiro é gay, o outro tem barba e falta dedos, aquela candidata é mulher
fácil, a outra trai o marido, e vai derrubando pedra por pedra para afinal
dizer que devemos votar no candidato dele, único que não tem defeitos. Será que
tem virtudes?
As redes sociais viraram o principal canal dos desocupados
que não conseguem sequer falar pessoalmente com alguém porque não saem da
frente do computador, mas que entendem tudo de internet e assim vão convencer
as pessoas a não votarem livremente. São aqueles que disseram que tal
presidente foi eleito com voto de nordestinos e por isso não vale a eleição.
São daquela minoria privilegiada pela sorte de serem bem nascidos, que acham
que o voto do “intelectualoide” sulista, vale mais do que o do nordestino. A região
é que dá qualidade ao voto.
Tem uma moça jovem, bem vestida na foto do “face”, metida a
catedrática de eleições, nunca votou e vai fazê-lo pela primeira vez, mas
entrou no “facebook” e ditou as regras que devem ser seguidas para ninguém errar
o voto, e ai ela diz que o atual prefeito da sua cidade prometeu várias coisas
mas não fez, e que por isso deve ser esquecido pelo eleitor. Sugeriu que todos
votassem num candidato do bico enorme, que nem o nariz do Pinóquio.
Alguém contestou o seu palpite e ela classificou o opositor
de alienado, que não consegue ver que o partido tal é corrupto e que todos os
seus membros devem ser derrotados.
Em resposta o interlocutor disse a ela que o tema alienação
comporta várias interpretações, mas que para interpreta-lo é necessário se
estar com a mente desprovida de preconceitos, e a interpretação exige um
profundo exercício de inteligência para entender que espécie de alienação se
referir. Um diz que o outro que pensa diferente é alienado e tem razão porque a
alienação está relacionada a sua forma de conhecimento ou de entendimento. Do
outro lado haverá razão para se dizer que a alienação inversa seja também
verdadeira porque um pensa diferente do outro e ambos serão alienados em
relação ao ponto de vista inverso. Se eu gosto de um partido de cor vermelha
você me chama de alienado, não poderá reclamar se eu disser o mesmo de você que
gosta de um partido de cor azul. Cada cor tem os seus bandidos, incompetentes,
corruptos e isso está provado.
A mocinha, ainda despreparada para um debate saudável
preferiu dizer que não pretendia discutir com gente burra e saiu pela tangente.
Agora é época dos chatos abordarem a gente para tentar nos
convencer de que seus candidatos são os melhores e se nós os contrariarmos será
muito pior porque eles não vão sair de perto. Assim, o melhor é se dizer de
acordo com o ponto de vista do chato, se não ele não largará do seu pé.
Quem vai decidir em silêncio na cabine privativa, é você e os
chatos que se danem.
Lembra bem. Se um chato se aproximar de você diga que o seu candidato
é o mesmo dele e se livra logo da inconveniência. Entretanto se for alguém que
apenas lhe apresenta o material de propagando de algum candidato, e não for do
tipo chato, atenda-o com educação e siga em frente.
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