Em uma das igrejas católicas de Ouro Preto, daquerlas repletas de acervos religiosos
que, na verdade, são nada mais do que registros da história do Brasil, um dos
guias nos mostrou os anjos que ornavam a parte superior das paredes, um de cada
jeito, outros portando instrumento musical, pergaminho, e eu perguntei
ingenuamente o porquê dessas diferenças entre uns e outros anjos. A reposta foi
surpreendente e veio esclarecer que os anjos se assemelham aos ministros dos
governos de hoje, se organizam em nove castas, sendo uma a que cuida da limpeza
do céu, outra da segurança, das comunicações e assim o céu fica organizado. Eram
Serafins, Querubins, Gabriéis e outros de que não me lembro. Foi uma boa aula
de história religiosa.
Mais adiante havia um santo com aspecto muito
humilde, em imagem de meio corpo, da cintura para cima, cuja utilidade o
guia logo fez questão de ressaltar.
- Vocês estão vendo este santo com carinha de santo?
Continuou
- É o mais espertalhão e todos e prestou grandes serviços à corte portuguesa ou aos corruptos de lá, viajando constantemente do Brasil para Portugal e ia sempre como o grande protetor da embarcação, para proteger os tripulantes e passageiros. Tinha fama de protetor dos viajantes, mas na realidade era outra a sua função.
O guia nos encaminhou para a parte de trás da imagem e abriu
uma portinha que havia nas costas dela e nos explicou que aquele espaço vazio
do interior da imagem era utilizado para esconder o ouro que era contrabandeado
do Brasil para Portugal sem que pagassem os impostos cobrados pela realeza e
sem o conhecimento oficial da remessa.
O “santo do pau oco” sempre foi uma expressão usada no Brasil
ou pelo menos em Minas Gerais e Rio de Janeiro, como apelido daquelas crianças
que faziam a arte e escondiam a mão. Os dissimulados que quebram a jarra e
dizem não fui eu, eu não vi quem foi e nem sabia que tinha quebrado.
Hoje acordei com vontade de relembrar a lenda para que não
caia no esquecimento e mantenha viva a narrativa na hora de votar. Não vote mais
em “santo do pau oco” se não o seu ouro vai pro brejo e eles vão dizer que não
têm conta bancária fora do Brasil e vão até jurar que são pobres.
João Lúcio Teixeira - Jornalista
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