Durante cerca de dez anos eu trabalhei em diversas emissoras
de rádio em Caraguatatuba e o meu discurso era sempre voltado para o mesmo
tema, a corrupção no poder público. A minha postura era considerada inocente,
quando eu falava que ainda ia ver os corruptos na cadeia, e eles já estão sendo
presos e não são poucos. Até a cidade considerada a capital do crime perfeito
Caraguatatuba, está sofrendo as suas baixas e começando a pagar a conta que a
justiça vai cobrando aos poucos. Um ex-prefeito que se dizia candidato a voltar
à cadeira mais importante da cidade, ficou fora de combate por conta da lei de
ficha limpa e indicou o filho para tentar manter no seio da família o poder
municipal. Nada pessoal contra as pessoas, que são simpáticas e gentis, mas
nada pode ser mais inconveniente do que o tal do nepotismo disfarçado, praticado
também pelo atual prefeito que por falta de quadros levou o filho a tiracolo
como seu vice que nada de importante conseguiu mostrar nos oito anos de
mandato.
Agora o atual prefeito está às voltas com a polícia e o
ministério público sob acusação de estarem os membros do seu governo
distribuindo cestas básicas que deveriam ter finalidade social, mas que
estariam sendo distribuídas em busca de votos para candidatos do seu partido.
Na última quinta-feira circulou na internet um vídeo que
mostrava um carro de propriedade de um vereador, guiado por um primo do
candidato do prefeito, retirando cestas básicas das dependências da secretaria
de promoção social da cidade, e sendo levadas para destinação que, segundo a notícia,
teria fins eleitorais. O vídeo foi objeto de representação junto ao ministério público
eleitoral, que juntamente com a polícia federal e ingressaram de surpresa no
prédio da secretaria onde eram depositadas essas cestas, por volta das 14:00
horas de ontem sexta-feira, fizeram uma devassa nos computadores, e documentos,
e levaram os equipamentos para investigação.
Isso quer dizer que se outros políticos estiverem envolvidos
e seus nomes aparecerem nos registros e se as distribuições de cestas forem
consideradas irregulares, todos poderão ter suas candidaturas impugnadas e
ainda correm o risco de serem presos, como vem ocorrendo na operação lava jato
que vai chegando aos prefeitos e vereadores como nós sempre comentamos aqui. Um
dia a casa cai e hoje o prefeito Antônio Carlos apressou-se em ir à emissora de
rádio quase oficial da cidade, e assumiu a responsabilidade dos fatos para
proteger o seu candidato o Gilson que, indicado pelo prefeito é o discípulo que
deverá, se eleito, dar prosseguimento ao modelo de gestão do ACS, de quem foi
secretário de obras durante oito anos em dois mandatos.
Todo mundo sabe que, em inúmeras cidades do Brasil, a relação
dos políticos com construtoras, empresas de ônibus, empresas de lixo, e outras,
é relação de modo geral promíscua, voltada para os financiamentos de eleições ou pagamentos de propinas para vereadores e prefeitos, que com isso, se reelegem e
elegem os seus sucessores. Todo mundo sabe que a distribuição de cestas básicas
se faz de forma política e não somente social como deveria ser. Não se pode afirmar
que isso esteja ocorrendo em Caraguatatuba, mas a polícia está verificando o
material recolhido e vai prestar contas à sociedade se algo estranho tiver
ocorrido.
O fato é que se algum vereador atual estiver envolvido e seu
nome, ou de assessores seus, aparecerem nas investigações, Caraguá poderá
sofrer baixas importantíssimas.
A polícia e o ministério público não se dispuseram a dar
entrevistas antes de apuradas as denúncias.
João Lúcio Teixeira
Jornalista
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