EM NOME DO PAI, DO FILHO, E DO ESPÍRITO
SANTO
O que aconteceu no Estado do
Espírito Santo com a polícia militar no interior dos quartéis e um grupo de
mulheres reunidas no lado externo das portas dos quartéis impedindo que as
viaturas saíssem para o trabalho de policiamento, perfaz situação de extrema
delicadeza na ordem pública e social do país.
Quando os cidadãos normais foram
às ruas em manifestações contra o governo, as policias usaram de todas as
formas de repressão, balas de borracha, gás lacrimogênio e escudos, em esforço
para combater as manifestações populares. No Espírito Santo, nada disso foi
feito e as mulheres que se intitulavam esposas de policias militares, sequer
foram identificadas para conferir se de fato se tratavam somente de esposas de
militares.
O fato é que durante as
manifestações das mulheres por aumento de salário dos policias, cerca de 130
pessoas foram assassinadas no estado e agora depois de encerrado em tese o
protesto, surgem notícias dando conta de que parte desses assassinatos teriam sido
praticados por policias militares e por grupos de extermínio envolvendo esses
profissionais. Sendo isso verdade, tem-se que parte dos membros da polícia
estariam praticando crimes comuns e quem sabe até, estejam a serviço do crime
organizado.
Segundo o filósofo Leandro Karnal,
o fato mostra que podemos estar próximos de um rompimento no tecido democrático,
o que provocaria uma desordem social e quem sabe desintegração do sistema político
nacional. Isso é muito grave, e pode levar a uma Síria cujo governo enfraqueceu
ao ponto de permitir-se acuada por uma nova ordem de cunho religioso o Estado
Islâmico, que vem implantando o terror no mundo. O que poderia ocorrer no
Brasil é uma incógnita e quem sabe um estado de cunho religioso com fundamentos
radicais. O que está ruim pode piorar, do mesmo jeito que achavam que a queda
da Dilma seria a solução dos problemas do Brasil.
O fato, ruptura institucional, já
ocorreu na Rússia em 1917, com uma revolução popular incontrolável, com o
surgimento do Partido Bolchevique que implantou a União Soviética que durou até
1991, com re3gime comunista duríssimo, e na França no século XVIII que resultou
na revolução francesa, com a Monarquia Absolutista que governava a França por
séculos tendo entrado em colapso com a perda do controle da nação (1789).
As instituições precisam
funcionar corretamente e nenhum movimento social pode ser mais importante do
que a estabilidade do estado, a menos que uma multidão de grande porte
estivesse rebelada, o que não foi o caso.
O Brasil já tem alguns pontos
fracos na sua organização que o tornam de certo modo vulnerável, como o caso da
falta de ética na polícia que resulta em deputados e senadores que não
representam o desejo do povo, mas o desejo dos grupos que eles representam, ou
ainda com a fraqueza do poder executivo que vive de cabeça baixa diante do
legislativo, quando o correto seria cada poder com a sua parcela de
independência sem com isso fugir ao controle institucional. Anda bem que o
poder judiciário tem funcionado de forma a manter em parte o equilíbrio
institucional.
O brasileiro está acostumado a
lidar com a política como se ela fosse o futebol, onde cada um tem o seu time, mas
se houver derrotas a vida vai continuar. Na política é diferente porque os
empregos, as escolas, os hospitais, as liberdades individuais ficam atreladas
ao bom funcionamento da república.
Desse modo, há de se convir que
em algum momento as garantias sociais e políticas devem ser preservadas a
qualquer custo, e deveria ter sido assim no Espírito Santo onde pequenos grupos
de mulheres que se diziam esposas de militares impediram o regular funcionamento
do Estado.
A força não é para ser usada
contra o povo e a favor dos políticos como se vê na Venezuela, mas é para ser
usada na defesa dos interesses do povo, que tem direito à garantia de
segurança, saúde, educação, transporte público, e que portanto não pode ter
esses direitos bloqueados por grupos que se amotinam a impedir o regular
funcionamento do estado.
Não se prega a violência, mas o
emprego de formas pacíficas e eficientes de fazer valer as atividades de
Estado.
João Lúcio Teixeira
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