Acordei, nem tão cedo como de
costume, e recebi o primeiro abraço de parabéns, quando a minha mulher
carinhosamente me disse pra ser feliz. Aí caiu a ficha e o filme começou a
rodar, numa busca detalhada de tantos anos que se foram, porque afinal, fazer
setenta e cinco anos não estava no roteiro das pessoas que como eu nasceram no
meio da segunda guerra mundial 1942, ou quando ainda não havia antibióticos nas
farmácias, não havia cirurgia de vista, nem do coração, e o câncer nem era
diagnosticado. As pessoas daquele tempo tinham mais certeza da morte precoce do
que da vida longa. Tuberculose era o terror de todo mundo, tanto que a cidade
de São José dos Campos, hoje com 700 mil habitantes era apenas uma pequena
cidade com 36 mil habitantes do tamanho da Ilhabela de hoje, e teve o seu
primeiro momento de aumento populacional com base no tratamento de
tuberculosos, já que a cidade foi escolhida como o melhor clima para o
tratamento de doentes que vinham de vários lugares do Brasil, principalmente de
São Paulo, buscar a recuperação natural propiciada pelo clima, temperatura, umidade,
aeração, tudo da melhor qualidade a favor da cura da doença. Muitos vieram e
nunca mais saíram daqui. Nessa época eu nasci lá nas Minas Gerais, Pequeri,
cidade ainda hoje com menos de 10 mil habitantes, com expectativa de vida bem
reduzida já que o brasileiro vivia em média 43 anos. Os brasileiros morriam de
tuberculose por exemplo e de outras moléstias infecciosas pela falta do
antibiótico que só chegou ao mercado em 1945. As pessoas jovens não tinham
nenhuma esperança de ver a virada do século em 2000, mas a medicina teve uma
evolução acelerada na década de 70, em especial, e muitas doenças passaram a
ser curáveis ou no mínimo controláveis, gerando uma expectativa de vida que
pulou de 43 anos para 75, nas ultimas sete décadas.
Hoje completei 75 anos e me vejo
em boas condições de saúde, embora tenha passado por algumas cirurgias desde os
anos 90, joelho, coluna e ultimamente no coração há oito meses, mas estou com
todos os meus sentidos em perfeito funcionamento, e fui até liberado para
esportes como o futebol que voltarei a jogar.
A ciência tem salvado vidas que
antigamente não eram salvas, mas a humanidade, pelo menos por aqui, não tem evoluído
o suficiente para se adequar a essa nova realidade, que mostra que muitas pessoas
de setenta anos ainda têm a contribuir com a vida produtiva. É tempo de se acabar com as fábricas de
bengalas, e de mudarem as placas de estacionamento onde aparece um idoso com
uma bengala na placa de sinalização.
Eu nem paro nessas vagas para
evitar humilhação.
João Lúcio Teixeira
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