sexta-feira, 30 de junho de 2017

O MUNDO MUDOU

Acordei, nem tão cedo como de costume, e recebi o primeiro abraço de parabéns, quando a minha mulher carinhosamente me disse pra ser feliz. Aí caiu a ficha e o filme começou a rodar, numa busca detalhada de tantos anos que se foram, porque afinal, fazer setenta e cinco anos não estava no roteiro das pessoas que como eu nasceram no meio da segunda guerra mundial 1942, ou quando ainda não havia antibióticos nas farmácias, não havia cirurgia de vista, nem do coração, e o câncer nem era diagnosticado. As pessoas daquele tempo tinham mais certeza da morte precoce do que da vida longa. Tuberculose era o terror de todo mundo, tanto que a cidade de São José dos Campos, hoje com 700 mil habitantes era apenas uma pequena cidade com 36 mil habitantes do tamanho da Ilhabela de hoje, e teve o seu primeiro momento de aumento populacional com base no tratamento de tuberculosos, já que a cidade foi escolhida como o melhor clima para o tratamento de doentes que vinham de vários lugares do Brasil, principalmente de São Paulo, buscar a recuperação natural propiciada pelo clima, temperatura, umidade, aeração, tudo da melhor qualidade a favor da cura da doença. Muitos vieram e nunca mais saíram daqui. Nessa época eu nasci lá nas Minas Gerais, Pequeri, cidade ainda hoje com menos de 10 mil habitantes, com expectativa de vida bem reduzida já que o brasileiro vivia em média 43 anos. Os brasileiros morriam de tuberculose por exemplo e de outras moléstias infecciosas pela falta do antibiótico que só chegou ao mercado em 1945. As pessoas jovens não tinham nenhuma esperança de ver a virada do século em 2000, mas a medicina teve uma evolução acelerada na década de 70, em especial, e muitas doenças passaram a ser curáveis ou no mínimo controláveis, gerando uma expectativa de vida que pulou de 43 anos para 75, nas ultimas sete décadas.
Hoje completei 75 anos e me vejo em boas condições de saúde, embora tenha passado por algumas cirurgias desde os anos 90, joelho, coluna e ultimamente no coração há oito meses, mas estou com todos os meus sentidos em perfeito funcionamento, e fui até liberado para esportes como o futebol que voltarei a jogar.
A ciência tem salvado vidas que antigamente não eram salvas, mas a humanidade, pelo menos por aqui, não tem evoluído o suficiente para se adequar a essa nova realidade, que mostra que muitas pessoas de setenta anos ainda têm a contribuir com a vida produtiva.  É tempo de se acabar com as fábricas de bengalas, e de mudarem as placas de estacionamento onde aparece um idoso com uma bengala na placa de sinalização.
Eu nem paro nessas vagas para evitar humilhação.

João Lúcio Teixeira

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