domingo, 23 de outubro de 2011

AGORA FOI UM PROFESSOR QUE LAMENTOU

Não o conheço, mas sou seu fã porque o senhor tem a possibilidade de falar o que a gente gostaria de dizer e não tem como. Muita gente vive sufocada com a garganta congestionada e só pode mesmo é se indignar. A gente presta concurso para educar, estuda pra isso, sonha com a carreira de educador, presta juramento no dia da colação de grau e na hora de trabalhar, nos impõem regras absurdas que nem nós, os professores, nem os alunos suportamos.
O conteúdo programático é hermeticamente fechado não permitindo nenhuma possibilidade de adequação aos casos reais. As comunidades pobres e desprovidas de quaisquer confortos e às vezes até famintas, são tratadas do mesmo modo e com a mesma atenção dos burguesinhos bem resolvidos o que faz injusta a ministração do conhecimento. Os professores que de alguma forma desejam adequar o seu trabalho à sua realidade acabam advertidos por conta da brutalidade do sistema.
A sala de aula em algumas escolas, contam com  lousa desgastada pelo uso onde o preto não é tão preto e a visibilidade do aluno é prejudicada.
O aluno recebe em casa, informações coloridas o tempo todo através a televisão e na escola continua recebendo informações em preto e branco do mesmo jeito que seus avós.
O professor fez referência às dificuldades que encontra para controlar a disciplina dos alunos mais difíceis que sempre existem, e mesmo que consiga sucesso nessas tarefas, ainda tem que acomodar toda a sala para incluir alguns alunos excepcionais que, segundo ele, nunca deveriam estar nas salas de aula regulares.
Os alunos excepcionais acabam criando para o professor dificuldades extras que desviam o centro das atenções. Não se trata preconceito, disse ele, mas de realidade. Não dá pra manter em sala regular criança com grau acentuado de dificuldade para que o professor resolva o problema social da  disciplina dos ditos normais, e ainda tenha que se esforçar para ensinar o mesmo conteúdo aos alunos especiais. Acha ele que o melhor para os excepcionais seria mantê-los em locais adequados como a APAE que está sendo desativada por conta da falsa idéia de que eles possam acompanhar o ensino regular. Falam que os investimentos na APAE foram reduzidos e a ideia do sistema é desmontar instituição tão antiga e sempre considerada eficaz e aumentar a "malfadada" inclusão social que acaba com a APAE e leva o problema para a sala de aula comum como se isso fosse mais humano. Disse que isso é a pura demagogia porque o professor que consegue disciplinar a classe não pode conseguir fazer sozinho o milagre da multiplicação, porque ele é um só.
O sistema de ensino está promovendo o surgimento de uma geração de professores oprimidos, sem criatividade e acima de tudo submetidos a chefias pouco maleáveis e de pouco preparo, dotadas de insensibilidade absoluta. Os debates não são permitidos porque as ordens vêm de cima de maneira obtusa e castradora. O professor passou a se tratado como excepcional, comandado por regras arcaicas e ditatoriais. 
Além disso, a orientação é no sentido de que quem aprendeu aprendeu e quem não aprendeu aprendesse porque o professor não pode ultrapassar o tempo planejado para aplicação do conteúdo. Se os alunos tiverem dificuldades em determinado momento e a culpa do aprendizado insuficiente será sempre do professor. O trem tem que andar, e o problema fica sem solução.
A desmotivação acaba resultando em inúmeros professores fora da sala de aula sob alegação de doença, às vezes verdadeiras e noutras vezes apenas psicológicas, outro número significativo de professores em regime de readaptação porque não conseguem permanecer na sala de aula e são mantidos em serviços administrativos.  Isso é a realidade do ensino cujo resultado final é um aprendizado absolutamente fraco que não prepara o cidadão para o mundo real. Quem não sabe ler e nem fazer as quatro operações matemáticas sem uso de calculadora, não pode ser considerado alfabetizado. O Brasil está repleto de jovens que não lêem, se lêem não interpretam o texto e a educação ainda caba sendo premiada.
Por aqui, em Caraguatatuba, a única propaganda que fazem da educação é a tal da carne de avestruz na merenda dos alunos. Isso é importante, mas o ensino com eficiência seria o principal objetivo de tantos gastos com um ensino que não ensina.
O fato vai de encontro ao que dita a constituição brasileira que fala que o serviço público deve ser contínuo e de boa qualidade. A ineficiência do sistema de ensino afronta até a constituição.
Enquanto isso os professores que ganham salário insatisfatório, menor que os das outras cidades vizinhas, que trabalham em preto e branco, com lousas desgastadas e garganta cansada, vão levando essa farsa que é o ensino no Estado de São Paulo, o maior da Federação e um dos mais descuidados com o ensino.
Retratamos a fala de um professor que não pode falar se não vai parar no Poço das Antas, lugar gostoso, mas distante demais da civilização urbana.Trabalhar por lá e morar na cidade seria como correr uma OLIMPÌADA por dia de trabalho. Só o grande irmão é que não vê isso.

4 comentários:

marcalves70 disse...

É triste ver como uma profissão TÃO importante do ponto de vista social e de construção de cidadania chegou a esse ponto de desvalorização e humilhação. Só não entendi sua colocação: "sob alegação de doença, às vezes verdadeiras e noutras vezes APENAS psicológicas". Esses problemas psicológicos é que são os mais graves em nossa profissão.

blogdojoaolucio disse...

Tem razão
Doenças psicológicas também são doenças, mas eu quis diferenciar as dores nos ombros, ou nas cordas vocais, da depressão. Justifico-me.

munícipe preocupado disse...

Doenças psicológicas, depressão, ansiedade são doenças mentais e muito sérias, se não tratadas. Seja qual for a doença, o que "pega' é o nome, doença mental. Logo nos vem a idéia de loucura ou qualquer absurdo do tipo. Pior, é o doente sofrendo com a doença em si, além do preconceito de ser chamado de maluco ou vagabundo.
Um quadro depressivo grave leva a outras doenças, tais como hipertensão, gastrites, comprometimento do sistema imunológico e muitas outras.
Já se tem um estudo que indica que, por volta de 2030, a depressão será a doença que mais afastará as pessoas do trabalho.
Portanto, vamos dar mais atenção a esse problema crescente e tentar de alguma maneira rever nossos conceitos em relação ao mesmo, começando a não ter medo de usar a denominação correta.
Depressão não é tristeza e não passa se te convidarem para sair e tomar "umas". Procure um médico.

marcalves70 disse...

Num país onde os políticos tem os salários mais altos se comparado com o resto do mundo, esperar o que da Educação? Eles querem formar "cidadãos" sem opinião, sem capacidade de perceber as mazelas que sustentam esses políticos no poder e o quanto isso é maléfico para nosso País. Pra que informar se podem manipular?