terça-feira, 22 de novembro de 2011

O PANO DE FUNDO DO DEBATE

De toda a confusão que foi gerada do conflito público entre o radialista e o Kazon, existe um fator de maior importância que dá nutrição ao debate. O plano diretor do município de Caraguá que é uma lei derivada do Estatuto da Cidade, do Ministério das Cidades que é obrigatória em todos os municípios brasileiros. O plano diretor dá  direção ao desenvolvimento da cidade respeitando as suas vocações. O plano de Caraguá tem pontos importantes que orientam o crescimento da cidade, como o sistema viário que segundo arquitetos que acompanharam as discussões é de bom conteúdo. Ocorre que o desenvolvimento de uma cidade não pode se ater somente ao sistema viário e a construção de edifícios, porque os problemas mais importantes das cidades litorâneas principalmente estão na área social que teve pouquíssimas contemplações no plano já aprovado. Não há politicas de geração de trabalho e renda, o que seria fundamental em uma cidade em que as pessoas precisam de trabalho e o comércio não é suficiente para solucionar a dificuldade. O plano não contempla a política ambiental de forma clara nem planeja a recuperação de áreas degradas ou a recuperação da praia como equipamento essencial ao turismo. Não estabelece uma política de solução do problema do saneamento básico que torna impróprias as prais . Para essa questão deveria haver planejamento detalhado com prazos e metas. O que mais se discutiu no plano foi a altura dos edifícios e a idéia do prefeito de autorizar prédios altos por toda a cidade. Uns menores outros maiores e ficou nesse campo a conversa sobre um tema de tal grandeza. Qualquer pano diretor tem que ter como foco o desenvolvimento humano dos que vivem no local, mas aqui parece que o desenvolvimento passa pela construção e venda de apartamentos para turistas. Os turistas virão aqui para usufruir das praias poluídas, se não há valorização dos pontos turísticos geralmente abandonados como a Pedra da 
Freira, a Perda do Jacaré, o Farol da Martin de Sá que poderia ser um belo mirante, o Morro Santo Antônio, de onde se avista toda a cidade, mas que depois de pavimentada a subida não mereceu mais nenhuma atenção a não ser a discussão sobre a derrubada do santo. O plano diretor deveria controlar não somente a altura dos prédios mas acima de tudo, qual o futuro que nós queremos para quem vive aqui e não tem trabalho, nem escola e nem a dignidade devidamente respeitada. Não estamos falando de uma ou de outra administração, até porque o plano diretor já passou por duas gestões diferentes e não foi socialmente direcionado.
Encher a cidade de prédios só vai interessar a construção civil e aos corretores, ou aos chamados investidores que bem poderiam construir seus arranhacéus em qualquer outra cidade que ganhariam dinheiro do mesmo jeito. São José dos Campos já limitou a altura de edifícios em quinze andares porque os prédios criam dificuldades com estacionamento, circulação de veículos, sombreamento excessivo, esgotamento sanitário e vários outros fatores que complicam a urbanidade dos locais onde há concentração dessas edificações. 
O plano deveria acomodar o futuro dos idosos, a melhor qualidade de vida de todas as pessoas no que tange a saúde, educação, saneamento, trânsito, cultura, lazer e a possibilidade de convivência social.
Já temos em Caraguá a amarga realidade da ausência de praças públicas em  bairros como o Indaiá cujas áreas destinadas a  praças foram todas ocupadas por prédios públicos como bombeiros, secretaria de educação, e vários outros equipamentos que retiraram das pessoas a possibilidade de tomar sol no domingo com suas crianças na praça. A praia existe, mas a teoria diz que áreas de praças são fundamentais. Agora com esse plano, se encherem de prédios o Indaiá, as pessoas serão sufocadas nos seus apartamentos sem chance de ver o sol que até os presidiários têm como direito fundamental. Tomar sol. Caberia uma emenda no plano diretor que ainda vai ser sancionado que deveria proibir peremptoriamente qualquer desafetação de praças públicas para construção. E já estão querendo desafetar a área de praça do Jardim Britânia para construção de um aquário com tantas áreas livres pela cidade. Temos exibido algumas fotos da cidade de Poços de Caldas que mostram como por lá eles cuidam das praças e dos pontos turísticos enquanto a nossa cidade abandona as praças ao Deus dará. Plantam flores, mas as deixam morrer porque não há jardineiros para aguá-las, caso específico da Praça central Dr. Cândido Mota. Esquecem-se que a vida não é só cimento e dinheiro e as flores precisam existir. Para os humanos, bem humanos, flores fazem parte de todos os momentos importantes da vida a até da morte só não falam e nem precisam falar porque o silêncio pode significar muito em alguns momentos  "as rosas não falam".
Assim, é bom olharmos por detrás desse debate Forlin e Kazon que há um plano diretor que vai ter que ser totalmente revisto daqui a cinco anos quando já tivermos muitos prédios autorizados e bastante praças transformadas em prédios. As pessoas que vivem aqui terão que rever essa loucura da verticalização antes que seja tarde e algum urbanista consciente poderá dar a sua contribuição definitiva. Ou seremos uma cidade turística ou seremos um monte de prédios sem vida e sem amor. 

2 comentários:

Silvia Rangel disse...

Dr. João Lúcio com toda admiração e respeito que sempre tive pelo Sr, mas acho que há um grande equívoco quando cita área de praça no Jd Britania, sou moradora do bairro e para ser mais clara moro em frente á essa tal "praça", nunca existiu sequer um banco ou qualquer vestigio de aquele terreno seja uma praça, aliás muito pelo contrário, existe sim um terreno abandonado há anos, mato crescendo, lixo empilhado animais mortos e queria saber de onde veio essa informção de que os moradores do Britania não querem que lá seja feito o aquário, pois eu como moradora mais proxima da área nunca fui consultaqda nem pela associação dos moradores nem por qualquer vereador, então não se pode dizer que uma minoria que não vive o dia a dia de conviver com lixo e matagal na porta de sua casa possa falar algo a respeito, é muito facil criticar a vinda do aquario para meu bairro, mas ninguem foi contra quando nesse mesmo bairro veio um centro de recuperação para dependentes quimicos né?? Isso é muito estranho pois o aquario iria nos beneficiar e nesse caso estou a favor do prefeito e vou querer apurar o motivo de alguns vereadores ser contra. boa tarde

blogdojoaolucio disse...

Cara Leitora
Você acabou de matar a charada. Audiência pública para ouvir os moradores seria excelente. Veja bem se for pra você decidir entre um terreno baldio com cachorros mortos ou um aquário claro que você escolheria o aquário, mas se for entre uma praça pública bem cuidada e um aquário a decisão poderia ser outra. Melhor mesmo seria ouvir a população.
Abraços e obrigado pela participação.