OS PERIGOS DO FANATISMO
Ouvi em um órgão de imprensa de
abrangência nacional, que o senador, agora ministro, Crivela, do Rio de Janeiro, teria saído de
licença do seu cargo de Ministro de EStado, porque estava preocupado com a possibilidade de
ter que cumprimentar o Papa em algum possível evento oficial. O Crivela é
membro de uma igreja evangélica e foi eleito com votos dos seus fieis.
Gandhi |
Temos pregado na WEB que a
mistura de ingredientes religiosos com fatores políticos não tem possibilidades
de ser bem sucedida. Lá nas bandas dos países árabes, os conflitos religiosos
atingem proporções preocupantes, com grupos religiosos se agredindo
publicamente em verdadeiras guerras civis de um deus contra outro deus. Em
tempos antigos, a constituição do Brasil promulgada em 1892, a primeira da república,
exagerava na dose ao dizer que a religião oficial do Brasil era a católica
apostólica romana, e que outros credos somente poderiam ser praticados no
âmbito das residências dos seus adeptos, numa clara discriminação à umbanda,
religião dos negros vindos da África, aqui escravizados. Tempos depois, esse
dispositivo foi retirado da carta magna, que passou a considerar o Brasil como
um estado laico de liberdade religiosa plena. Rousseau, o grande pensador da
humanidade, já considerava inconvenientes as divisões dos povos com base nos
deuses, em que cada tribo ou estado tinha a sua divindade e eram proibidos de
cultuar a divindade de outros povos. O povo era governado por um rei cujo poder
vinha de deus, mas do deus daquela tribo e ai de quem desrespeitasse os mandamentos
do seu deus. O rei podia tudo contra aquele indivíduo tratado por blásfemo ou
pecador indigno, às vezes levado à morte como forma de imposição do poder.
O mundo atual acabou por separar
o poder político da idéia de poder teológico, dando aos governantes o encargo
de cuidar da realidade dos povos sem a interferência de qualquer deus. Passou a
existir o poder sem deus, mas com fé, o que já seria, em tese, um contra-senso.
Nos últimos tempos, a fé está sendo levada de volta ao poder através da mídia
eletrônica, rádio e televisão, que são órgãos de comunicação social de controle
dos governos, mas que vêm sendo concedidos a instituições religiosas de maneira
a permitir-se que um serviço público que deveria estar a serviço do interesse
público de todos os cidadãos, seja direcionado a grupos específicos de crenças
religiosas. Há instituições católicas administrando emissoras e há instituições
evangélicas fazendo o mesmo. Isso tem gerado um crescimento no sentimento
fanatizado de fiéis que são induzidos por alguns líderes religiosos a
cultivarem ódio dos que pensam diferente. A evolução nesse sentido poderá levar
o brasileiro aos velhos tempos em que a religião que abranger o maior número de
adeptos vire governo nos moldes já condenados antes. Isso não é bom, porque se
fosse, os países árabes não estariam assistindo os genocídios verificados na
história atual. O primeiro passo a ser dado é a proibição de programas
religiosos em rádio e televisão, a menos que sejam ecumênicos e contemplem a
todas as religiões e todos os deuses em todas as emissoras além da proibição de
uso desses meios para arrecadação de dinheiro para construção de impérios muito
mais particulares do que coletivos. Claro que os programas de natureza
religiosa não deveriam ser proibidos, mas nenhuma emissora deveria ser
controlada por uma só igreja. Isso poderá nos levar a divisões como a que
frustrou a obra de Mahatma Gandhy, o
grande líder indiano que dedicou toda a vida à causa da libertação do povo indiano,
do domínio Inglês, para depois assistir o seu povo dividir-se em etnias de cristãos
e muçulmanos que se apedrejavam em
conflitos de natureza religiosa.
O senador evangélico Crivela,
mostrou, com a sua atitude de se licenciar para não ter que cumprimentar o
Papa, que religião deve se praticar no templo e política nos palácios. Não dá
pra se dizer que a fé poderia melhorar a política e nem que a política poderia
aprimorar a fé. São elas, apenas ingredientes diversos que não conseguem se
misturar.
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