terça-feira, 26 de novembro de 2013

AVE CESAR!

O imperador, ao sentar no trono, conquistado com muito $uor, sentiu-se o maior de todos os homens naquela cadeira imensa com uma caneta de ouro na mão, para rabiscar seu nome, e um charuto cubano na outra. Camisa de seda, óculos escuros a disfarçarem as olheiras resultantes da noitada passada, e no semblante o aspecto de um grande guerreiro que, somente com seu espírito ardiloso, acabara de destronar o adversário, agora vencido.
Mandou retirar do gabinete todas as imagens que pudessem fazer lembrar os seus antecessores, e quaisquer outras imagens que pudessem ofuscar a sua. Jesus na cruz foi retirado porque nenhuma figura poderia ser mais importante do que a sua, naquele ambiente. Ali, o Deus era ele, e somente ele, que abençoava os que lhe agradassem e excomungava os que lhe parecessem antipáticos. Adorava elogios.
Seus serviçais, aqueles que o assessoravam mais proximamente eram intimidados com as frequentes advertências do tipo “faça o que eu digo e não o que você pensa”, ou “faça o que eu mando se não a fila vai andar. Tem muita gente querendo o seu cargo.”
Os servidores efetivos admitidos por concurso, e que não podiam ser demitidos, se não lhe fizessem as reverências ou não ajoelhassem aos seus pés, eram transferidos para as regiões mais distantes e de condições de trabalho dificultosas. Os parentes dos seus asseclas e parentes seus, ocupavam cargos confortáveis, mesmo que não produzissem.
Pela manhã, no seu primeiro dia de mandato, convocou uma reunião de “secretariado” para discutir as políticas a serem implementadas no seu governo.
O secretário de administração ia abrir a boca, o Imperador o interrompeu para dizer: “ Não me venha com história de percas salariais, e seje breve”. Ele calou-se.
O secretário de educação solicitou atenção especial para a necessidade de aprimorar alguns sistemas de ensino e de melhorias nas condições de trabalho dos professores, e o Imperador foi incisivo: Não é prioridade.
O secretário de saúde argumentou da necessidade de melhorar o atendimento em alguns setores que especificou e a resposta foi lacônica: Se melhorarmos a saúde, as pessoas de outras cidades virão pra cá e nós não vamos dar conta. É um saco sem fundo.
Manifestou-se o secretário de assistência social pra dizer que a bolsa família precisa ser reorganizada para atender a um número maior de famílias, e o Imperador deu a sua primeira bronca oficial: “Não tenho nada a ver com esses miseráveis que esperam comida do governo. Nem um centavo a mais do que tem sido destinado a esse projeto. Isso é demagogia”.
Ai, entra em cena o secretário de obras, e diz que tem um projeto de revitalização da orla oceânica que inclui uma enorme praça com fonte luminosa, palco para shows, e uma grande imagem do Imperador ao centro, com iluminação de cores variadas que a tornam visível de qualquer ponto da praia.
Seus olhos brilharam, sua face enrubesceu, um sorriso intenso fez notar a felicidade que o tomara de assalto naquele instante. Ai ele perguntou ao secretário de obras, qual era o tamanho da imagem, o tamanho da placa e o que seria escrito nela. O secretário respondeu que a placa seria de bronze com detalhes em pedras coloridas, e nela conteria, em breve relato, a história, a maravilhosa história sobre a vida dele, o Imperador. Teria o nome de seus pais e de todos os seus filhos, mas não teria o nome das suas mulheres que não caberiam na placa. Ficou feliz.
Ave Cesar!

João Lúcio Teixeira

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