O imperador, ao sentar no trono,
conquistado com muito $uor, sentiu-se o maior de todos os homens naquela
cadeira imensa com uma caneta de ouro na mão, para rabiscar seu nome, e um
charuto cubano na outra. Camisa de seda, óculos escuros a disfarçarem as
olheiras resultantes da noitada passada, e no semblante o aspecto de um grande
guerreiro que, somente com seu espírito ardiloso, acabara de destronar o
adversário, agora vencido.
Mandou retirar do gabinete todas
as imagens que pudessem fazer lembrar os seus antecessores, e quaisquer outras
imagens que pudessem ofuscar a sua. Jesus na cruz foi retirado porque nenhuma figura
poderia ser mais importante do que a sua, naquele ambiente. Ali, o Deus era ele,
e somente ele, que abençoava os que lhe agradassem e excomungava os que lhe
parecessem antipáticos. Adorava elogios.
Seus serviçais, aqueles que o
assessoravam mais proximamente eram intimidados com as frequentes advertências
do tipo “faça o que eu digo e não o que você pensa”, ou “faça o que eu mando se
não a fila vai andar. Tem muita gente querendo o seu cargo.”
Os servidores efetivos admitidos
por concurso, e que não podiam ser demitidos, se não lhe fizessem as
reverências ou não ajoelhassem aos seus pés, eram transferidos para as regiões
mais distantes e de condições de trabalho dificultosas. Os parentes dos seus
asseclas e parentes seus, ocupavam cargos confortáveis, mesmo que não
produzissem.
Pela manhã, no seu primeiro dia
de mandato, convocou uma reunião de “secretariado” para discutir as políticas a
serem implementadas no seu governo.
O secretário de administração ia
abrir a boca, o Imperador o interrompeu para dizer: “ Não me venha com história
de percas salariais, e seje breve”. Ele calou-se.
O secretário de educação solicitou
atenção especial para a necessidade de aprimorar alguns sistemas de ensino e de
melhorias nas condições de trabalho dos professores, e o Imperador foi
incisivo: Não é prioridade.
O secretário de saúde argumentou
da necessidade de melhorar o atendimento em alguns setores que especificou e a
resposta foi lacônica: Se melhorarmos a saúde, as pessoas de outras cidades
virão pra cá e nós não vamos dar conta. É um saco sem fundo.
Manifestou-se o secretário de assistência
social pra dizer que a bolsa família precisa ser reorganizada para atender a um
número maior de famílias, e o Imperador deu a sua primeira bronca oficial: “Não
tenho nada a ver com esses miseráveis que esperam comida do governo. Nem um
centavo a mais do que tem sido destinado a esse projeto. Isso é demagogia”.
Ai, entra em cena o secretário de
obras, e diz que tem um projeto de revitalização da orla oceânica que inclui
uma enorme praça com fonte luminosa, palco para shows, e uma grande imagem do
Imperador ao centro, com iluminação de cores variadas que a tornam visível de
qualquer ponto da praia.
Seus olhos brilharam, sua face enrubesceu,
um sorriso intenso fez notar a felicidade que o tomara de assalto naquele
instante. Ai ele perguntou ao secretário de obras, qual era o tamanho da
imagem, o tamanho da placa e o que seria escrito nela. O secretário respondeu
que a placa seria de bronze com detalhes em pedras coloridas, e nela conteria, em breve relato, a história, a maravilhosa história sobre a vida dele, o
Imperador. Teria o nome de seus pais e de todos os seus filhos, mas não teria o
nome das suas mulheres que não caberiam na placa. Ficou feliz.
Ave Cesar!
João Lúcio Teixeira
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