Os observadores da grande mídia
brasileira e internacional estão analisando os recentes acontecimentos
políticos, com certa apreensão. A derrota da presidente Dilma, na câmara dos
deputados, resultante da derrubada do seu decreto que criava os conselhos
populares, com a intenção de desviar os debates sobre políticas de governo, do
congresso nacional para os conselhos populares que pretendia criar é sinal de
dificuldades, e será assim também no Senado, segundo dizem alguns senadores.
Hoje as notícias dão conta de que
os ministros Aldo Rebelo, Mercadante e alguns outros do chamado grupo pesado,
estão buscando amenizar o confronto já instalado entre a presidência e o
legislativo. Há quem pense que se trata de simples desconforto ideológico, mas
há quem afirme que se trata é de um confronto de interesses em cargos do
governo, o que tem sido a moeda de barganha para acalmar as lideranças famintas
por prestígio.
Cerca de 35% dos partidos da base
do governo estão rebelados, e podem criar algumas dificuldades para a
governabilidade, se não houver uma acomodação dessas insatisfações. O PMDB,
partido do presidente da câmara está querendo simplesmente os ministérios da
educação e da saúde, duas pastas de orçamento vultoso e de importância
estratégica nos objetivos da Dilma, segundo seu discurso de campanha.
No fundo, o que se avista é um
tal de toma-lá-dê-cá que é cenário do espetáculo das transações político-partidárias
na história recente deste país. O poder executivo presenteia os partidos com
cargos e verbas orçamentárias e assim governa tranquilo, sem fiscalização nem
cobranças. A eleição da câmara é outro evento que está tirando o sono dos
petistas que tinham um acordo de cavalheiros com o PMDB, alternando a presidência,
uma vez de um partido outra vez do outro. O PMDB ocupa a presidência atualmente
e já diz que não vai cumprir o acordo e vai querer prosseguir na presidência
daquela casa legislativa. Registre-se que o PMDB já ocupa a presidência do
Senado e a vice-presidência da república.
O confronto está instalado e infelizmente
o governo terá que dar os anéis se não quiser perder os dedos, e o povo brasileiro
vai ser governado por um sistema de interesses que não são exatamente os
interesses gerais da nação brasileira.
Ontem o senador Pedro Simon, em
discurso importante de despedida já que não será mais senador no próximo ano, disse
que a Dilma terá que ser muito forte se quiser governar e ainda assim será
assediada o tempo todo, porque são cerca de 27 partidos com cargos na câmara e
senado e não é fácil negociar com tantos lideres, cada qual com interesses
diferentes. Se de um lado, pode se considerar boa a diversificação do poder, do
outro há que se admitir a dificuldade de atendimento a tantos interesses que
não são sempre sérios.
A vitória apertada nas eleições
da presidente é sinal de que a sua vida no palácio não será fácil e pode-se admitir
que isso traz riscos institucionais.
A república está vivendo um momento historicamente delicado, que pode servir para depurar ou para complicar o sistema de poder, que em 1964 sofreu um dos piores golpes na sua trajetória institucional. Não dá pra experimentar do mesmo veneno novamente, e por isso a presidente precisa ter consciência da delicadeza do momento e trabalhar incessantemente pelo entendimento, sem contudo ceder nos pontos que não podem ser negociados, como o combate à corrupção, a reforma política que impeça o avanço das forças negras, a exclusão da bandidagem institucional, e o avanço nas políticas sociais. Confronto não é bom caminho, mas ceder a tudo também não. Dilma tem que aprender a andar no fio da navalha sem cair nem se cortar.
A república está vivendo um momento historicamente delicado, que pode servir para depurar ou para complicar o sistema de poder, que em 1964 sofreu um dos piores golpes na sua trajetória institucional. Não dá pra experimentar do mesmo veneno novamente, e por isso a presidente precisa ter consciência da delicadeza do momento e trabalhar incessantemente pelo entendimento, sem contudo ceder nos pontos que não podem ser negociados, como o combate à corrupção, a reforma política que impeça o avanço das forças negras, a exclusão da bandidagem institucional, e o avanço nas políticas sociais. Confronto não é bom caminho, mas ceder a tudo também não. Dilma tem que aprender a andar no fio da navalha sem cair nem se cortar.
João Lúcio Teixeira
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