Está evidenciada a divisão interna no PT, Partido dos
Trabalhadores, com a entrevista da senadora Marta Suplicy, publicada na grande
mídia nacional, em que critica Dilma, e alguns de seus principais ministros,
com destaque para a afirmação e que o Mercandante seria inimigo de Lula. Faz
severas críticas à política econômica do governo, se comportando como membro de
algum partido de oposição. A saída da Marta do ministério do governo Dilma, a
cerca de dois meses, já dava sinais de que dentro da legenda havia uma espécie
de insatisfação de alguns grupos, e o Blog fez esse registro dias atrás quando
da nomeação dos ministros. O Eduardo Suplicy afirmou há mais ou menos ano antes
da eleição, em entrevista exclusiva a este Blog, que estava preocupado porque parte
do PT estava a fim de dificultar a sua obtenção de legenda para a tentativa de
reeleição ao cargo de senador, porque ele silenciara em relação ao pessoal
acusado no processo do mensalão. Os petistas achavam que ele deveria sair
publicamente na defesa dos membros do PT e isso não aconteceu.
O fato é que a Marta já teve dificuldades quando tentou ser
de novo candidata a prefeita de São Paulo e foi barrada em favor do Haddad que
atualmente é o prefeito da cidade. Isso irritou a uma parte do PT cuja resposta
está sendo dada agora pelo grupo da Marta.
O fato não é surpresa porque a gente sabe que o poder traz
sempre como resultado, as brigas internas nas disputas pelos postos
importantes. Se não por questão de simples vaidade do poder pelo poder, pelo
desejo de implantar ideias.
No caso do PT as tendências que formam a base de sustentação
da legenda lutam pela supremacia interna com o fim de ver predominarem as suas
teses.
No PSDB também se vê um enfrentamento permanente entre o
grupo do Aécio e o grupo do Alckmim, que disputam a supremacia no partido, o
que antes já vinha ocorrendo entre o Serra e o Geraldo Alckmim. Portanto,
brigas internas em partidos políticos não são novidades, mas no PT a coisa toma
mais vulto porque há uma parte importante da imprensa com tendência aburguesada,
que adora dar destaque aos problemas do PT por ser um partido que nasceu das
lutas operárias, enfrentou e venceu nas urnas o predomínio político da chamada
classe empresarial que o PSDB representa.
Agora, a política brasileira está chegando em um ponto
delicado, porque se o PT se dividir ou perder muita consistência, não há nada
de muito melhor para se pôr no lugar, já que os partidos de oposição não têm
uma bandeira, nem uma cara que se possa ver como acontece com o PT que tem uma
organização, uma origem definida e um jeito de se posicionar em favor das
classes sociais menos favorecidas. Se isso na prática agrada ou não, é outro
assunto, mas que há uma identidade na postura política do PT não há nenhuma
dúvida. É um partido identificado com as lutas operárias, ainda que muitos
achem que ele tenha perdido grande parte de sua identidade original.
Se do outro lado, houvesse uma organização política com
objetivos definidos, como ocorre em países desenvolvidos em que os
republicanos, e democratas se confrontam, cada um com programas específicos,
seria mais seguro para o eleitor do Brasil, que poderia decidir entre esquerda
ou direita, socialismo ou capitalismo. Não dá pra dizer que qualquer coisa é
melhor do que o que se tem, se no lugar se puser algo desconhecido. Seria como
trocar uma faxineira antiga e séria por uma estranha por simples antipatia. É
temerário. As oposições que hoje se manifestam são alguns “gatos pingados”, no
senado e outros poucos na câmara federal, alguns representando os
latifundiários e outros sem qualquer idealismo, em discursos pontuais contra
Petrobrás, ou o mensalão, numa tentativa de conquistar votos e derrubar o
sistema. O que será do Brasil se o PT, que não tem ido bem, sair e entrar em
seu lugar uma colcha de retalhos formada por um monte de políticos bons de
votos mas sem um grande plano para a nação. O Lula mostrava sua vocação de combate
à fome, redução da miséria, agua para todos, luz para todos, e o Brasil avançou
nessas áreas. Não se está aqui avaliando se isso é certo ou errado, o que se
quer dizer é que o governo do PT tem uma vocação definida de reduzir as
diferenças sociais. Isso agrada a alguns e desagrada a outros, mas o que não se
pode negar é a vocação do partido de governar para os pobres.
O país precisa ter rumo, e o rumo de um país precisa ser
planejado tendo em foco os pontos onde se quer chegar. O mundo tem se orientado
pelos índices de desenvolvimento humano, como mortalidade infantil,
longevidade, índices de analfabetismo, desemprego, renda familiar, e outros
indicadores que mostram o nível de desenvolvimento das nações (nação é o povo
politicamente organizado). Fazer obras de engenharia e combater à inflação por
si só, pode não significar tudo, se não houver avanços no nível de desenvolvimento
das pessoas. As arrecadações públicas precisam ser endereçadas para projetos de
interesse da população como um todo e não somente para a satisfação de grupos
de interesses.
A divisão do PT que ocorre atualmente é um indicador de que
pode haver cisão de parte de sua militância e dá até para prever a criação de
nova sigla, como já ocorreu com o MDB nos anos oitenta, para o nascimento do
PSDB de Montoro, Covas e companhia e o nascimento do MDB do Quércia e do
Ulisses Guimarães.
Verdade que parte do PT é esquerda consciente (com foco nas
diferenças sociais) e outra parte nem tanto, e é verdade que para governar nos
termos atuais é necessário negociar com uma certa bandidagem política que detém
o poder de complicar a vida do presidente. Essas negociações geram desgastes e
os desgastes depois de acumulados podem gerar cisões. Entretanto, cabe
afirmar-se que o Brasil não acabará se o PT se dividir porque ele está acima de
tudo isso, mas há que admitir-se também que se o PT implodir não há nada
conhecido para se pôr no lugar, e o estranho pode não ser bom, principalmente
se se tratar de alguma colcha de retalhos sem identidade, projeto ou programa.
Melhor lidar com o que se conhece do que com o estranho. Em matéria de política
o correto é saber onde andar e qual o futuro a ser conquistado. Um povo precisa
de ver seus impostos aplicados na qualidade dos serviços públicos que são de
péssimo, ainda que paguemos muito alto para termos o pouco que nos oferecem.
João Lúcio Teixeira
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