Certa vez, há muitos anos, escrevi um artigo que foi
publicado no Jornal O Valeparaibano, com o mesmo título deste que hoje escrevo.
Naquela época o Brasil bateu no muro porque a sua economia tinha chegado ao
fundo do poço e os políticos não encontravam saída para as sucessivas crises. O
desemprego era a tona e a inflação complicava ainda mais a situação das
famílias brasileiras. Novamente me veio a mesma motivação, só que, por razões
diferentes, mas de efeito novamente igual ou pior. Agora, não é só a economia
que gera preocupações com as dificuldades naturais da falta de dinheiro e falta
de motivação para os meios de produção que tem como pano de fundo a
desmotivação do consumo que são os dois pilares da movimentação econômica. O
produtor produz mais e o consumidor consome mais, num círculo virtuoso que gera
rendas, empregos, e tranquilidade. Fica evidente que em uma nação equilibrada,
a economia é a força motora da satisfação do seu povo. A Dilma distraiu-se no
controle das contas e está pagando o preço de ter desagradado ao capitalista
que queria ter mais lucros e ao trabalhador que desejava mais empregos. Quem
olha do lado mais romântico da política pode achar que esse seja o motivo do
impeachment e que a Dilma estaria sendo acuada somente por conta de uma crise
econômica.
Quem olhar mais profundamente, principalmente depois do
vexame chamado Jucá, vai ver que o pano de fundo da crise política brasileira
não é exatamente a economia, que se vai mal ainda não poderia ser assim tão
importante para tantos gritos da parte dos deputados e senadores. O que está
deixando apavorados os tais deputados senadores, vereadores, prefeitos,
governadores e que tais, é a “Operação lava jato” desencadeada há mais de dois
anos pela polícia federal e pelo Juiz Sérgio Moro, que vem desvendando os mistérios
dos bastidores da corrupção instalada em todos os níveis da política brasileira.
Os espertalhões descobriram que é possível ser eleito para algum cargo público
e nunca mais precisar trabalhar ou se preocupar com estudos ou especializações
profissionais. Desviam dinheiro público, enriquecem, gastam uma pequena parte
para se reelegerem e seguem roubando mais e se reelegendo mais. Mais fácil
ganhar a vida sem riscos, já que a impunidade sempre foi a tônica desses malandros
de colete.
A operação lava jato, que já colocou na cadeira muita gente
nunca antes imaginadas na história deste país, tem sido como um fio comprido
que ao ser puxado vai desvendando a cada centímetro um novo desastre moral e
algum novo crime contra os cofres públicos.
Os políticos que foram pegos, como o Senador Delcídio Amaral,
que não tem capacidade de suportar pressões psicológicas, ao ser preso já
denunciou a uma porção de outros políticos que com ele praticaram corrupção e
assim o novelo da sujeira vai sendo desenrolado e mais gente denunciando e mais
políticos sendo processados e presos. Jucá mostrou que a derrubada da Dilma,
não era exatamente pelos problemas da economia, mas pelo risco que a burguesia
política estava correndo de ir pra cadeia ou de não mais se reeleger.
O Jucá deixou claro que a derrubada da Dilma era a saída para
em um governo do Temer, se conseguir parar o que chamou de “sangria” da classe política
nacional. Queria tirar a Dilma porque ela não estava conseguindo ou não queria,
sabe-se lá, conter o Moro e a Policia Federal. O azar deles é que o processo de
combate à corrupção já saiu do controle e não há como parar o que povo quer que
continue. O desespero dos políticos é não conseguir dormir em paz como sempre o
fizeram e o temor de às seis da manhã ter a casa invadida por agente federais
em cumprimento de mandados de busca autorizados pela justiça. Se em 1964 eles
entravam na marra sem ordem judicial e ninguém os impedia, hoje eles já
conseguem ordem da justiça e as instituições funcionam em regime de
regularidade legal.
O caminho não parece ter volta e a nação brasileira está
festejando a queda de um por um como pregava o Ivan Lins em música cantada pela
Elis Regina, com frase como “cai, o rei de pau, cai o rei de ouro, cai o rei de
espada, cai não fica nada”.
Talvez a música tivesse que ser composta hoje e não naquele
tempo.
A verdade é que os velhos de cabeça branca que aprenderam a
roubar estão sendo desalojados um a um e o desespero deles é o medo de ser o próximo
da lista.
A volta da Dilma parece difícil, mas a manutenção do Temer no
poder parece mais difícil ainda e a história poderá escrever um novo capitulo a
partir de uma nova eleição que permita ao povo treinar um pouco mais até
acertar no voto secreto e sagrado.
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