Em um evento, nesta semana, encontrei uma professora da rede
pública de Caraguatatuba, S. Paulo, e ouvi um desabafo que me fez refletir
profundamente. Falou sobre a inclusão social que permite alunos com deficiência
mental nas salas regulares, e afirmou ser esse um fato, que aplicado sem
critério vem prejudicando o aprendizado daqueles que querem e podem aprender. Disse
ela que algumas dessas crianças são dóceis, mas outros são de difícil controle
e os professores não estão preparados para a função. Excomungou a insistência
de alguns em manterem crianças portadoras de deficiências graves nas salas de
aula sem, pelo menos um critério de avaliação médico-pedagógica que estabeleça
limites técnicos de inclusão. Acha que deveriam estabelecer limites mínimos
para que a criança fosse colocada no mundo que não é o dela e, com isso, fosse
prejudicada pelas “gozações” dos outros, ou tratada com piedade por alguns,
para ao final não conseguir aprender o que a escola tem que ensinar.
Falou-me a professora que a progressão continuada é outro
absurdo que tem levado o sistema de ensino ao vexame de conceder diploma a quem
não aprendeu nada. Citou o exemplo de um aluno de 17 anos da nona série que
havia sido retido uma vez na nona, e repetiu novamente, mas a coordenação da
escola determinou que ele fosse promovido, por que agora estava trabalhando e
não tinha tempo para estudar. Ele sempre fora aluno medíocre, mas tem o diploma
ou certificado, de conclusão do ensino médio.
Ai, o depoimento mais irritadiço, da professora ao falar
sobre as reuniões de professores encabeçadas pela diretora da escola. Ela, a
diretora começa a reunião criticando os professores, que precisam atingir as
metas e não conseguem. Quais são as metas?
Fazer com que os deficientes aprendam, manterem a disciplina
em classe, mesmo não tendo nenhum instrumento de troca e fazer com que alunos
aprendam. Quando, noutras épocas, os professores davam notas conforme o
aprendizado, os alunos tinham medo de não terem notas e não serem aprovados o
que implicaria até na exclusão da escola. Justo talvez não fosse, mas também
não é justo ter-se no ambiente escolar pessoas que não estudam, não aprendem e
são aprovadas por conta da necessidade de se apresentarem índices falsos de eficiência
do sistema. Quem é de fora, e vê os números, e acha que a escola brasileira é
um sucesso. Só que os alunos saem das escolas sem utilidade prática na vida
profissional ou no mundo real.
Ao final da reunião, disse ela, os professores saem pior do
que entraram na sala, depois de serem massacrados por uma diretora orientada
para desmoralizar ao invés de motivar os professores. Saem dali com vontade de
deixar a profissão, como faz cerca de 30% dos professores titulares que estão
fora das salas afastados por atestados médicos, muitas vezes conseguidos por
amizade.
As metas de aproveitamento exigidas pela diretora, incluem a
aprovação de quase todos os alunos, já que a ordem é reprovar no máximo 2% de
alunos e nada mais, o que desmotiva também os alunos que querem aprender e não conseguem
por que a inclusão social, a progressão continuada e manutenção de alunos de
mal comportamento nas salas de aulas por conta do tal social, impedem que haja
apenas ensino e aprendizado nas escolas públicas. Escola é para ensinar e aluno
é para aprender. Segundo aquela professora, os problemas sociais deveriam ser resolvidos
na secretaria de serviço social e não na escola. Os problemas mentais deveriam
ser resolvidos pela secretaria de saúde, e qualquer outro problema que
prejudique o aprendizado e o ensino, deveriam ser retirados das salas de aula
ou teremos no futuro um país dos alfabetizados-analfabetos. A demagogia e falta de responsabilidade social
para com o sistema de ensino está fazendo dos nossos professores um bando de
idiotas que são obrigados a cumprir metas estúpidas e fazendo dos alunos um
bando burros mentais, na sua maioria inúteis. Alguém terá de ter a coragem de
separar o joio do trigo e levar a escola pública aos níveis que ela sempre teve
em outras épocas.
Claro que algum poeta sonhador vai dizer que estou falando
bobagem, mas pode ser que quem acha isso tudo uma bobagem seja um dos idiotas induzidos pelo sistema a achar tudo isso normal.
Se eu fosse prefeito, me negaria a participar dessa palhaçada
que é o ensino brasileiro, restabeleceria o sistema de avaliação, devolveria a
autoridade ao professor, com limites, é claro, e separaria o joio do trigo.
Quem tem condições de aprender fica na classe e quem não tem recebe tratamento
especial segundo a sua própria necessidade, mas em outro local que não a sagrada
sala de aulas. Não dá pra enfiar tudo dentro de um balaio só e achar que é tudo
igual. Em relação ao professor, eu criaria formas de remuneração ou de
premiação segundo o grau de aprendizado de seus alunos. O bom mestre é exaltado
e o mal é expurgado.
A Constituição brasileira diz que serviço público deve ser
prestado com continuidade e deve ser de boa qualidade. O ensino público por
aqui está longe disso?
Aos professores, os nossos sentimentos e aos alunos que
querem estudar a nossa solidariedade.
Amém.
João Lúcio Teixeira
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