domingo, 29 de dezembro de 2013

É DURO SER PROFESSOR DA REDE PÚBLICA

Em um evento, nesta semana, encontrei uma professora da rede pública de Caraguatatuba, S. Paulo, e ouvi um desabafo que me fez refletir profundamente. Falou sobre a inclusão social que permite alunos com deficiência mental nas salas regulares, e afirmou ser esse um fato, que aplicado sem critério vem prejudicando o aprendizado daqueles que querem e podem aprender. Disse ela que algumas dessas crianças são dóceis, mas outros são de difícil controle e os professores não estão preparados para a função. Excomungou a insistência de alguns em manterem crianças portadoras de deficiências graves nas salas de aula sem, pelo menos um critério de avaliação médico-pedagógica que estabeleça limites técnicos de inclusão. Acha que deveriam estabelecer limites mínimos para que a criança fosse colocada no mundo que não é o dela e, com isso, fosse prejudicada pelas “gozações” dos outros, ou tratada com piedade por alguns, para ao final não conseguir aprender o que a escola tem que ensinar.
Falou-me a professora que a progressão continuada é outro absurdo que tem levado o sistema de ensino ao vexame de conceder diploma a quem não aprendeu nada. Citou o exemplo de um aluno de 17 anos da nona série que havia sido retido uma vez na nona, e repetiu novamente, mas a coordenação da escola determinou que ele fosse promovido, por que agora estava trabalhando e não tinha tempo para estudar. Ele sempre fora aluno medíocre, mas tem o diploma ou certificado, de conclusão do ensino médio.
Ai, o depoimento mais irritadiço, da professora ao falar sobre as reuniões de professores encabeçadas pela diretora da escola. Ela, a diretora começa a reunião criticando os professores, que precisam atingir as metas e não conseguem. Quais são as metas?
Fazer com que os deficientes aprendam, manterem a disciplina em classe, mesmo não tendo nenhum instrumento de troca e fazer com que alunos aprendam. Quando, noutras épocas, os professores davam notas conforme o aprendizado, os alunos tinham medo de não terem notas e não serem aprovados o que implicaria até na exclusão da escola. Justo talvez não fosse, mas também não é justo ter-se no ambiente escolar pessoas que não estudam, não aprendem e são aprovadas por conta da necessidade de se apresentarem índices falsos de eficiência do sistema. Quem é de fora, e vê os números, e acha que a escola brasileira é um sucesso. Só que os alunos saem das escolas sem utilidade prática na vida profissional ou no mundo real.
Ao final da reunião, disse ela, os professores saem pior do que entraram na sala, depois de serem massacrados por uma diretora orientada para desmoralizar ao invés de motivar os professores. Saem dali com vontade de deixar a profissão, como faz cerca de 30% dos professores titulares que estão fora das salas afastados por atestados médicos, muitas vezes conseguidos por amizade.
As metas de aproveitamento exigidas pela diretora, incluem a aprovação de quase todos os alunos, já que a ordem é reprovar no máximo 2% de alunos e nada mais, o que desmotiva também os alunos que querem aprender e não conseguem por que a inclusão social, a progressão continuada e manutenção de alunos de mal comportamento nas salas de aulas por conta do tal social, impedem que haja apenas ensino e aprendizado nas escolas públicas. Escola é para ensinar e aluno é para aprender. Segundo aquela professora, os problemas sociais deveriam ser resolvidos na secretaria de serviço social e não na escola. Os problemas mentais deveriam ser resolvidos pela secretaria de saúde, e qualquer outro problema que prejudique o aprendizado e o ensino, deveriam ser retirados das salas de aula ou teremos no futuro um país dos alfabetizados-analfabetos.  A demagogia e falta de responsabilidade social para com o sistema de ensino está fazendo dos nossos professores um bando de idiotas que são obrigados a cumprir metas estúpidas e fazendo dos alunos um bando burros mentais, na sua maioria inúteis. Alguém terá de ter a coragem de separar o joio do trigo e levar a escola pública aos níveis que ela sempre teve em outras épocas.
Claro que algum poeta sonhador vai dizer que estou falando bobagem, mas pode ser que quem acha isso tudo uma bobagem seja um dos idiotas induzidos pelo sistema a achar tudo isso normal.
Se eu fosse prefeito, me negaria a participar dessa palhaçada que é o ensino brasileiro, restabeleceria o sistema de avaliação, devolveria a autoridade ao professor, com limites, é claro, e separaria o joio do trigo. Quem tem condições de aprender fica na classe e quem não tem recebe tratamento especial segundo a sua própria necessidade, mas em outro local que não a sagrada sala de aulas. Não dá pra enfiar tudo dentro de um balaio só e achar que é tudo igual. Em relação ao professor, eu criaria formas de remuneração ou de premiação segundo o grau de aprendizado de seus alunos. O bom mestre é exaltado e o mal é expurgado.
A Constituição brasileira diz que serviço público deve ser prestado com continuidade e deve ser de boa qualidade. O ensino público por aqui está longe disso?
Aos professores, os nossos sentimentos e aos alunos que querem estudar a nossa solidariedade.  Amém.

João Lúcio Teixeira

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