O PT PODE ESTAR SOFRENDO UMA ESPÉCIE DE METAMORFOSE
Quem conviveu com os militantes do Partido dos Trabalhadores
na década de 80, como eu convivi com os vereadores Brás Cândido e Ernesto Gradela,
conheceu de perto o direcionamento ideológico do partido.
Gradela e Brás, tinham o discurso da raça na defesa dos
interesses dos trabalhadores que naquela época não tinham conseguido ainda,
tantos direitos como têm hoje, e esse era o combustível que alimentava a luta dos
militantes petistas na defesa dos seus ideais. Eu fui vereador àquela época em
São José dos Campos, numa câmara composta por maioria de direita, com os
partidos PDS, hoje PP e alguns outros de menor expressão que defendiam os ideais
mais ligados ao capitalismo. O PT juntamente com o MDB, ou mais tarde PMDB eram
os partidos que compunham, com apoio discreto mais importante do PCdoB e PCB,
partidos comunistas, a ala de defesa dos direitos e interesses democráticos,
que acabou por culminar no maior movimento político até aqui verificado no
Brasil, o “Deretas já”, que trouxe de voltas as eleições livres.
O PT está passando atualmente pela mudança de comportamento
que o PMDB experimentou tempos atrás. Deixa de ser um partido de esquerda com
carimbo e tudo para ser um partido preocupado em conseguir apoios populares, e
consequentemente convencer a opinião pública.
Meus amigos do PT sabem que eu sou um simpatizante da
legenda, sem nunca ter me filiado a ela, sempre estive junto à militância de
esquerda desde os movimentos estudantis dos anos 70 e 80, época em que fui
presidente dos diretórios acadêmicos das duas faculdades que cursei. Em 74
presidi o DA da Economia e 82 o DA do
Direito, ambos na antiga Fundação Valeparaibana de Ensino, hoje UNIVAP.
Controlar o ímpeto dos militantes de esquerda, como os petistas, os comunistas,
e os militantes de outros movimentos como Convergência Socialista e MR8, não
era tarefa fácil, mas eu como sempre presidia os diretórios de maior volume, acabava
conseguindo fazer o papel de mediador entre as militâncias em busca do
equilíbrio do movimento. Quem viveu aquela época sabe disso, como o Carlinhos
de Almeida, prefeito de São José dos Campos, a Amélia Naomi vereadora na mesma
cidade, Robert Costa ex-vereador hoje secretário no governo do PT em São José.
Hoje, na rua, ouvi de um petista de carteirinha a afirmação
de que
“os militantes
radicais não estão mais no PT” disse ele.
Isso, ainda que tenha ocorrido em Caraguatatuba, cidade de
pequeno porte no âmbito político nacional, mostra que a perda das forças mais
radicais pode ser um risco de o partido derivar mais em direção à direita, que
é, e sempre foi, na realidade, o que ocorreu com os partidos que ficaram
grandes demais.
Fica aqui a nossa preocupação, acompanhada da certeza de que
os “Companheiros” saberão lidar com o tamanho sem perder a identidade.
João Lúcio Teixeira
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