sábado, 12 de dezembro de 2015

ENTRE A CRUZ E A ESPADA

Em mais atenta investigação sobre os fundamentos de tão grave crise política e econômica que preocupa o Brasil nesse início de século XXI, consegui enxergar lá bem no fundo do cenário, uma luz interessantemente discreta.
Há vícios de que a gente não consegue se desvencilhar, e um dos meus vícios é ir ao banheiro com algo para ler ou com alguma revista de palavras cruzadas, mesmo sem grandes preocupações com a disciplina na escolha do que levar. Hoje eu estava com um livro importante, denominado “A insustentável leveza do ser” de autoria de um escritor Checo, Milan Kundera, que o escrevera depois da invasão Russa sobre a Checoslováquia, que resultou em uma cruel substituição dos elementos culturais nativos, por novas doutrinas vindas da cultura Russa que sempre as impunha com força bruta, sobre os povos conquistados. Li uma parte que falava sobre as únicas duas alternativas que restaram aos Checos: Ou aceitavam as imposições dos conquistadores, sem qualquer resistência, ou poderiam ser perseguidos e até presos por conspirarem contra o novo estado. Afinal, aquele país estava agora “protegido” pela chamada “Cortina de Ferro”.
Voltando para o caso do Brasil, e tendo em conta as últimas notícias que mostram que a câmara dos deputados federais quer derrubar a presidente da república, e que, ávidos do desejo, os deputados estão fazendo esforços legais ou ilegais, morais ou imorais, para instalarem um processo de impeachment, temos ai uma analogia perfeita entre a imposição comunista na Checoslováquia e a dualidade política do Brasil.
Lá eles queriam que o povo Checo virasse Russo, e aqui nós estamos entre o apoio a um governo popular que a América Latina tem experimentado, com vocação social, que quando muito fortalecido se torna perigosamente ditatorial, ou a velha prática dos tradicionais maus hábitos políticos da corrupção, reeleições parlamentares indefinidas, partidos políticos de aluguel e controlados segundo a  conveniência dos dirigentes e não dos ideais partidários, e a ocupação criminosa de cargos de confiança, sem concurso público por agentes políticos vocacionados ao garimpo de dinheiro fácil nas contabilidades públicas. Estamos entre a cruz da evidente contaminação do nosso possível socialismo e a espada do modelo corrupto tradicional.
O Brasil está exatamente igual à Checoslováquia dos anos que sucederam a invasão Russa, e a escolha é complicada porque o poder aqui está, ou nas mãos dos idealistas de esquerda que não agradam a todos pelo fato de gostarem de pobres, que possuem vícios e erros, e que também tem os seus corruptos de esquerda, ou dos corruptos de direita que não aceitam ser investigados e presos como vem acontecendo, com milionários sendo postos em cadeias, dormindo em colchões no chão em salas improvisadas, depois de conhecerem os mais lindos hotéis do mundo.
De um lado os que defendem a atual forma de governo popular, e do outro os que acham que cuidar dos pobres não é mais importante do que manter a economia do país em alta. Na vida privada o sujeito rico aceita pagar milhões para liberar um parente sequestrado, por entender que a causa é justa, mesmo que o parente sequestrado não tenha nenhuma virtude, mas se o assunto for de interesse público para oferecer benefícios aos mais pobres, essa mesma lógica já não parece justa, porque, para eles, a economia é mais importante do que o social.
São dois pesos e duas medidas, tal qual o fenômeno Checo, em que o mais importante era a doutrina comunista imposta pelos novos dominadores, que pregavam ser o mais perfeito modelo de existência de um povo, onde todo mundo seria igual, mas o governo não permitiria ao povo nenhuma possibilidade de influência na escolha dos seus governantes.
Aqui no Brasil, os que querem derrubar o governo, são os mesmos que têm contas bancárias fora do país, são os mesmos que se elegem gastando absurdos em campanhas eleitorais, são os mesmo que fazem qualquer coisa para permanecerem no poder. Há quem diga que no lugar do atual governo, qualquer coisa seria melhor, como se torcesse para times de futebol que se perderem ou ganharem nada muda na vida das pessoas. A política não é assim, e não basta tirar o que existe sem ter algo melhor para se pôr no lugar.
Quem olhar mais profundamente o quadro vai ver que nós estamos entre um governo popular com vocação socialista, com muitos defeitos, alguns graves, e uma enorme quadrilha que vem assaltando o país há muito tempo, e que está indignada ao ver os seus pares na cadeia.
Política no Brasil, virou negócio e negócio da pior qualidade e o povo tem que escolher no voto se quer um governo defeituoso de esquerda com vocação social ou um governo defeituoso de direita com vocação econômica.
João Lúcio Teixeira

Jornalista

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