sábado, 17 de maio de 2014

PADRÃO FIFA NO ESPORTE, PADRÃO ÁFRICA NO RESTO

Nos anos sessenta o Brasil experimentou uma série de movimentações populares nascidas da liberdade de pensamento, especialmente no campo das políticas públicas nacionais. Há um conflito tradicional entre as pessoas que possuem bens, que enfrentam a indignação do enorme contingente composto por pessoas que não possuem riquezas. A história mostra que o início da civilização no Brasil permitiu a prática da escravidão que submetia os negros ao domínio físico dos fazendeiros e comerciantes que utilizavam os serviços braçais dos escravos, remuneravam apenas com alimentação e moradia e ainda castigavam os que não fizessem corretamente as suas tarefas, às vezes estafantes.
As diferenças sociais sempre ocorreram, mas os menos favorecidos se submetiam por necessidade ainda que guardassem em suas almas a dor da indignação. Ninguém aceita com serenidade a degradação, ou submissão e o carimbo de “menos importante”. Ninguém quer ser inferior. Os escravos, quando conseguiam, fugiam para as matas e lá formavam os quilombos, que eram uma nova forma de organização social menos sofrida, ainda que tivessem que retirar da natureza o sustento necessário à sobrevivência. Sofriam, mas não eram humilhados e assim sentiam-se melhor.
A sociedade brasileira continua com as mesmas diferenças sociais, ainda que de forma menos acintosa, submete uma enorme gama de cidadãos à situação humilhante de sobreviverem sem as mínimas condições de dignidade. É  o padrão FIFA visto ao contrário. Seria bom que o atendimento médico tivesse o mesmo padrão que será oferecido ao torcedor.
Essas pessoas que tomam trens lotados, ônibus entupidos até à boca, trânsito engarrafado, que vão aos hospitais e são humilhadas em filas enormes mesmo que estejam sentindo dores, que não conseguem que seus filhos estudem mais do que um ensino básico pobre e inexpressivo, que não conseguem empregos, não conseguem ver seus filhos profissionalizados descentemente, são os mesmos escravos dos “sistema”. Esse é o termo correto, “sistema”, que permite que alguns espertalhões consigam ser eleitos a cargos públicos, abusem dos cofres públicos, enriqueçam descaradamente, numa espécie de “conchavo” onde uns fecham os olhos para não verem os outros roubarem, e vice versa, em verdadeira formação de quadrilha de saqueadores. O tal “sistema” permite que prefeito de qualquer cidadezinha entre pobre na prefeitura e saia rico poucos anos depois, cheio de processos e comprovadamente, safado, corrupto e ladrão da coisa pública. Isso gera infelicidade no seio do povo que deseja ver reduzidas as desigualdades sociais, ou pelo menos equilibradas as forças que regem a ordem social vigente. A constituição fala que todos são iguais perante a lei, mas não dá ao pobre as mesmas oportunidades dos ricos ou espertos. A lei não permite ao povo “deseleger” um ladrão no meio do seu mandato, do jeito que acontece com o pobre que rouba uma ferramenta do patrão. É demitido por justa causa se não for preso por isso. Os ladrões dos palácios roubam milhões e conseguem continuar nos cargos roubando ainda mais.
À noite, nos bares e restaurantes combinam novas formas de ação criminosa.
O povo não estaria nas ruas gritando contra a copa do mundo no Brasil, se a saúde estivesse melhor, se o ensino fosse de qualidade, e se os políticos não fossem tão descaradamente safados. Ressalvam-se possíveis exceções.
O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com quem convivi por motivo de trabalho, quase entrou na “pilha” dos palacianos espertos, e até ensaiou a ideia de aprovar uma lei que punia com rigor os manifestantes de rua. Voltou atrás, e foi bom, porque as manifestações populares têm legitimidade no modelo político praticado no Brasil, a DEMOCRACIA. Claro que ninguém quer ver depredações, mas porrada não vai mudar o comportamento das massas, e, ao contrário pode até acirrar a raiva cuja motivação não tem sido objeto de estudo pelos governantes. As razões dessa raiva, podem não ser somente contra a copa, mas contra a falta de investimentos nos serviços públicos que são de má qualidade e contra a corrupção.
Ao invés de combater o povo com violência, esse povo que comparece às ruas em enormes contingentes, seria importante diagnosticar as razões dessa emoção exacerbada que está transformando um povo calmo e tranquilo em guerreiros rebelados.
Se é mesmo a corrupção um dos pilares dessa insatisfação popular, e é o que parece, porque não convidar o povo para ajudar na luta contra a safadeza política? Se esse mesmo povo for chamado a ajudar a afastar os corruptos do poder, e o poder judiciário deixar de ser tão lento e complacente com os maus políticos, certamente um exército se formará e os corruptos desaparecerão do cenário político brasileiro. Ufa! Que bom seria!
O Maluf acaba de ser pilhado com dinheiro fora do Brasil, cerca de 52 milhões de dólares, desviados da prefeitura de São Paulo, fora o que já deve ter gasto nesse jogo político em busca de cargo e proteção judicial. O Robson Marinho conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, acaba de ser pilhado com um monte de dólares fora do Brasil resultado de propinas, segundo o Ministério Público. Prefeitos que não tinham p... nenhuma estão nadando em dinheiro, e o povo que se rebela é tido por baderneiro. Quem faz mais baderna é o povo que vai à rua, ou os políticos corruptos que metem a mão nos cofres públicos e deixam o povo sem médicos, remédios, ensino e segurança?
Veja o estado de São Paulo, onde a segurança está piorando a cada dia e a culpa é do povo. O ensino público paulista só ganha de uns três estados brasileiros, em matéria de aprendizado e é muito fraco. Será que vale a pena pagarmos tantos impostos para alguns safadinhos roubarem e ainda nos chamarem de baderneiros?
Ao povo ainda resta uma chance, que é a utilização correta de seu voto na urna. Isso também é difícil porque ele, o povo, não tem recebido ensinamento correto do que fazer com o voto. As escolas não ensinam nem leitura, quanto mais cidadania.
Povo na rua, pode não ser somente baderna, mas o início de uma revolta que já foi sufocada em 1964 e poderá provocar de novo a ira dos que têm contra a ira dos que não têm. Pode ser que a copa do mundo seja um desafio ao povo que vê 11 bi sendo investidos no padrão FIFA de qualidade esportiva, e sinta na alma um padrão Àfrica nos seus sistemas de saúde e educação.
O Brasil que já tem os Movimentos dos Sem Terra, o MST dos sem teto, poderá ter o MESE- Movimento dos Estudantes Sem Ensino, MDSM, o dos doentes sem médicos, e dos MSE  dos sem empregos e assim por diante. Ai, os safadões dos palácios, vão achar que é hora de uma nova revolução de 1964 para expulsar do país os insatisfeitos. É pra se pensar.

João Lúcio Teixeira

Um comentário:

Anônimo disse...

VIVA o PT.