Nos anos sessenta o Brasil
experimentou uma série de movimentações populares nascidas da liberdade de
pensamento, especialmente no campo das políticas públicas nacionais. Há um
conflito tradicional entre as pessoas que possuem bens, que enfrentam a
indignação do enorme contingente composto por pessoas que não possuem riquezas.
A história mostra que o início da civilização no Brasil permitiu a prática da
escravidão que submetia os negros ao domínio físico dos fazendeiros e
comerciantes que utilizavam os serviços braçais dos escravos, remuneravam
apenas com alimentação e moradia e ainda castigavam os que não fizessem
corretamente as suas tarefas, às vezes estafantes.
As diferenças sociais sempre
ocorreram, mas os menos favorecidos se submetiam por necessidade ainda que
guardassem em suas almas a dor da indignação. Ninguém aceita com serenidade a
degradação, ou submissão e o carimbo de “menos importante”. Ninguém quer ser
inferior. Os escravos, quando conseguiam, fugiam para as matas e lá formavam os
quilombos, que eram uma nova forma de organização social menos sofrida, ainda
que tivessem que retirar da natureza o sustento necessário à sobrevivência.
Sofriam, mas não eram humilhados e assim sentiam-se melhor.
A sociedade brasileira continua
com as mesmas diferenças sociais, ainda que de forma menos acintosa, submete
uma enorme gama de cidadãos à situação humilhante de sobreviverem sem as
mínimas condições de dignidade. É o padrão
FIFA visto ao contrário. Seria bom que o atendimento médico tivesse o mesmo padrão que será oferecido ao torcedor.
Essas pessoas que tomam trens
lotados, ônibus entupidos até à boca, trânsito engarrafado, que vão aos
hospitais e são humilhadas em filas enormes mesmo que estejam sentindo dores,
que não conseguem que seus filhos estudem mais do que um ensino básico pobre e
inexpressivo, que não conseguem empregos, não conseguem ver seus filhos
profissionalizados descentemente, são os mesmos escravos dos “sistema”. Esse é
o termo correto, “sistema”, que permite que alguns espertalhões consigam ser
eleitos a cargos públicos, abusem dos cofres públicos, enriqueçam
descaradamente, numa espécie de “conchavo” onde uns fecham os olhos para não
verem os outros roubarem, e vice versa, em verdadeira formação de quadrilha de
saqueadores. O tal “sistema” permite que prefeito de qualquer cidadezinha entre
pobre na prefeitura e saia rico poucos anos depois, cheio de processos e
comprovadamente, safado, corrupto e ladrão da coisa pública. Isso gera
infelicidade no seio do povo que deseja ver reduzidas as desigualdades sociais,
ou pelo menos equilibradas as forças que regem a ordem social vigente. A
constituição fala que todos são iguais perante a lei, mas não dá ao pobre as
mesmas oportunidades dos ricos ou espertos. A lei não permite ao povo
“deseleger” um ladrão no meio do seu mandato, do jeito que acontece com o pobre
que rouba uma ferramenta do patrão. É demitido por justa causa se não for preso
por isso. Os ladrões dos palácios roubam milhões e conseguem continuar nos
cargos roubando ainda mais.
À noite, nos bares e restaurantes
combinam novas formas de ação criminosa.
O povo não estaria nas ruas
gritando contra a copa do mundo no Brasil, se a saúde estivesse melhor, se o
ensino fosse de qualidade, e se os políticos não fossem tão descaradamente
safados. Ressalvam-se possíveis exceções.
O Ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, com quem convivi por motivo de trabalho, quase entrou na “pilha”
dos palacianos espertos, e até ensaiou a ideia de aprovar uma lei que punia com
rigor os manifestantes de rua. Voltou atrás, e foi bom, porque as manifestações
populares têm legitimidade no modelo político praticado no Brasil, a
DEMOCRACIA. Claro que ninguém quer ver depredações, mas porrada não vai mudar o
comportamento das massas, e, ao contrário pode até acirrar a raiva cuja
motivação não tem sido objeto de estudo pelos governantes. As razões dessa
raiva, podem não ser somente contra a copa, mas contra a falta de investimentos
nos serviços públicos que são de má qualidade e contra a corrupção.
Ao invés de combater o povo com
violência, esse povo que comparece às ruas em enormes contingentes, seria
importante diagnosticar as razões dessa emoção exacerbada que está
transformando um povo calmo e tranquilo em guerreiros rebelados.
Se é mesmo a corrupção um dos
pilares dessa insatisfação popular, e é o que parece, porque não convidar o
povo para ajudar na luta contra a safadeza política? Se esse mesmo povo for
chamado a ajudar a afastar os corruptos do poder, e o poder judiciário deixar
de ser tão lento e complacente com os maus políticos, certamente um exército se
formará e os corruptos desaparecerão do cenário político brasileiro. Ufa! Que
bom seria!
O Maluf acaba de ser pilhado com
dinheiro fora do Brasil, cerca de 52 milhões de dólares, desviados da
prefeitura de São Paulo, fora o que já deve ter gasto nesse jogo político em
busca de cargo e proteção judicial. O Robson Marinho conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado, acaba de ser pilhado com um monte de dólares fora do Brasil
resultado de propinas, segundo o Ministério Público. Prefeitos que não tinham
p... nenhuma estão nadando em dinheiro, e o povo que se rebela é tido por
baderneiro. Quem faz mais baderna é o povo que vai à rua, ou os políticos
corruptos que metem a mão nos cofres públicos e deixam o povo sem médicos,
remédios, ensino e segurança?
Veja o estado de São Paulo, onde
a segurança está piorando a cada dia e a culpa é do povo. O ensino público
paulista só ganha de uns três estados brasileiros, em matéria de aprendizado e
é muito fraco. Será que vale a pena pagarmos tantos impostos para alguns
safadinhos roubarem e ainda nos chamarem de baderneiros?
Ao povo ainda resta uma chance,
que é a utilização correta de seu voto na urna. Isso também é difícil porque
ele, o povo, não tem recebido ensinamento correto do que fazer com o voto. As
escolas não ensinam nem leitura, quanto mais cidadania.
Povo na rua, pode não ser somente
baderna, mas o início de uma revolta que já foi sufocada em 1964 e poderá
provocar de novo a ira dos que têm contra a ira dos que não têm. Pode ser que a
copa do mundo seja um desafio ao povo que vê 11 bi sendo investidos no padrão
FIFA de qualidade esportiva, e sinta na alma um padrão Àfrica nos seus sistemas
de saúde e educação.
O Brasil que já tem os Movimentos
dos Sem Terra, o MST dos sem teto, poderá ter o MESE- Movimento dos Estudantes
Sem Ensino, MDSM, o dos doentes sem médicos, e dos MSE dos sem empregos e assim por diante. Ai, os
safadões dos palácios, vão achar que é hora de uma nova revolução de 1964 para
expulsar do país os insatisfeitos. É pra se pensar.João Lúcio Teixeira
Um comentário:
VIVA o PT.
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